Esta
vendo aquele homem? Com um olhar triste fixado no horizonte com os lombos encurvados
pelo cansaço da vida e lida, andar lento com passos arrastados de quem já sofreu
e trabalhou incessantemente pelo pão de cada dia. Uma voz de taquara rachada, embaçada
e rouca que tanto me ensinou o caminho certo a seguir, tantas historias
contadas aos longos dos anos onde deitava em seu colo com um olhar feliz e
deslumbrado com suas estórias de reis e príncipes...
Agora
ele pega a velha sanfona e toca divinamente naquele pequeno e surrado
instrumento a sanfona de oito baixas que expressa às tristezas e amarguras do
velho Jeca, sua musica preferida chamava-se saudade do matão e o som com
harmonia e graça enchia todo o nosso quarto, meu olhar de orgulho e admiração
mirava naquele rosto cheio de rugas que escrevia em seu rosto uma vida de lutas
e sofrimentos, agora o velho sanfoneiro com seus olhos rasos d’água tocava as
teclas pequenas do instrumento para contar suas magoas e saudades...
Aquele
homem valoroso de mãos calejadas pelo duro trabalho da lida pegava nas horas de
folga os velhos guarda chuvas dos vizinhos para consertar e reformar costurando
seus panos (tecidos) com aquela calma que lhe era peculiar, trocava as varetas,
reformava os cabos, trocava os gatilhos e as ponteiras (quando estouram). De
repente não mais que de repente ajeitava o seu velho chapéu de couro dos tempos
que candeava boi pelas estradas empoeiradas da roça, meu pai saia para o velho
carteado com os amigos...
Sentado
ao entardecer ao lado do portão de madeiras a sombra da grande trepadeira com
seu sombreado, rosto ansioso os olhos de criança voltados para a entrada da rua
chamada do meio da fazenda Tapera Alta, de repente surgia aquele homem cansado
de mais um dia de labuta carregando seus baldes cheirando a leite, corria com
aquelas pernas pequenas ao encontro daqueles braços entre sorrisos de alegria
estendia minha pequenina mão e na mesma hora recebia uma pequena moeda trocada
por doces e balas. O velho homem estava de volta ao lar...
À
noite aquele homem ligava seu radio antigo que logo soava o seus sons de
violas e cânticos sertanejos embalando a harmonia da família, o velho lampião de
querosene era aceso com seu peculiar isqueiro de pedra e o lampião soltava sua fumaça preta enchendo o cômodo de chão batido
com aquele cheiro de óleo. O silencio enchia a casa começava a radionovela que
todos amavam e ao som das ondas sonoras do velho radio contava a estória do Jeronimo o herói
do sertão que contava as lutas contra o crime do valente sertanejo e seu amigo o
fiel Saci. Quando terminava o dia a luz do lampião era soprada e a
escuridão tomava conta do velho casebre de pau a pique...
Esta
vendo aquele velho homem sanfoneiro com sua velha sanfona de oito baixas na
mão? Este homem é o meu pai...
Deus
te abençoe!!! Maurílio Souza
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Letra
da musica Saudades De Matão
Tonico
e Tinoco
Neste
mundo eu choro a dor,
Por
uma paixão sem fim
Ninguém
conhece a razão
Porque
eu choro num mundo assim
Quando
lá no céu surgir
Uma
peregrina flor
Pois
todos devem saber
Que
a sorte me tirou foi uma grande dor
Lá
no céu, junto a Deus
Em
silêncio a minha alma descansa
E
na terra, todos cantam
Eu
lamento minha desventura desta pobre dor
Ninguém
me diz
Que
sofreu tanto assim
Esta
dor que me consome
Não
posso viver
Quero
morrer
Vou
partir pra bem longe daqui
Já
que a sorte não quis
Me
fazer feliz
Quando
lá no céu surgir
Uma
peregrina flor
Pois
todos devem saber
Que
a sorte me tirou foi uma grande dor...
Quando
meu pai tocava e cantava esta musica lembrava da perda de minha vó
falecida.....
Deus
te abençoe!!! Maurílio Souza...
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