POEMA
E HISTORIA DO BABAQUARA - EITA NOIS:
Nasci
no meio da roça em uma casa de palhoça, vivendo no meio do mato caçando ninho
de passarinhos... Abria as porteiras, pulando no ribeirão, hoje moro na cidade,
mas meu coração ficou no sertão. Colhendo café, caminhando descalço no meio da
leras de batata, plantando tomates e colhendo milho nos milharais...
Tomando
banho de regador lembranças guardadas com muito amor. De manhã saia com o carro
de boi que rinchava no estradão despertando os colonos para o trabalho no
roçado que saiam com suas enxadas e pés descalços caminhando na terra vermelha
da estrada do boqueirão.
No
trilhado dos pássaros da sinfonia de canários, coleiros e pintassilgo na
tranquilidade das matas e florestas com seus jacus e siriemas, onças e antas,
jacarés e capivaras animais de berros e urros que fazem dos efeitos sonoros das
matas com seus sons horripilantes e assustador... O verde das arvores em
contrastes com as multicores de pássaros e borboletas criando uma tela de
paisagens com o brilho e danças dos matizes.
O Sol nasce nas campinas soberano
e com autoridade se impõe sobre a escuridão trazendo claridade, a noite
romântica e cheia de estrelas com sua lua formosa e graciosa inspirando os poetas
com suas letras e musicas... O
caboclo da roça chamado de vários nomes e significados construíram e
alimentaram este país varonil dos verdes das matas do azul do céu, do amarelo
do ouro, nos brancos das nuvens com suas formas e efeitos desenhando com
amplidão o firmamento...
O Sertanejo Guaco, o Roceiro e Caipira, o Caburé e
Araruama, O Arigó e Bugre, o Babaquara e Baicuara, o Biriba e Botocudo, o
Bruaqueiro e caburé, não importa o nome do Caiçara ele sempre será o caboclo
sertanejo um homem diferente de gostos diversos da broa de fubá com café de
manhã, do frango com quiabo uma misturada de jiló com abobrinha carregada na
pimenta da canjiquinha com costelinha. Das comidas sem frescuras do angu ao mugunzá...
Das
festas do roceiro, dos forrós e vaquejadas, das festas juninas com suas
quadrilhas e do fole dos sanfoneiros. Com suas cantorias nas batidas das
latadas, da espingarda do soca-soca dos milhos da broca, das pipocas no
caldeirão e do amor no coração. Despede-se com sorriso faceiro com a vara de
bambu para pescar tucunaré na bocada do ribeirão, com a minhoca de isca e o
cipó timbupeva para colocar o pescado.
Eita so que dia bunito e florido no
roçado com os peixes no caritó voltando para minha Biboca com minha cama e
colchão de palha, mas antes vou emendar bigode numa prosa fuxiqueira ate fica
meio troncho e dormir no meu terreiro...
COM
MEUS PÉS DESCALÇOS:
Nasci
em colchão de palha numa casa de pau a pique de chão batido com fogão de lenha
ligado a uma chaminé de manilhas que sobressaia no telhado de sapé... Tomava
água de coité guardadas na moringa de barro de argila, águas tiradas do poço
com tampas de madeira apodrecidas pela umidade em balde e carretilha, ali no
poço era o habitat de uma trairá que fazia a limpeza da cisterna rota...
Nasci
na fazenda “Tapera Alta”, próximo à chacrinha que tinha a porteira vermelha
onde mais na frente à ponte também chamada vermelha... Sou filho de uma
colhedora de café com as mãos calejadas com um tropeiro que candeava bois pelos
montes de Gerais que descansava em paradas nas estalagens, comendo feijão
tropeiro com farinha nas estradas de chão e barro de Minas Gerais...
Aos
domingos almoço na Grama na reunião familiar com todos da família presente em
momentos do passado que hoje estão presentes na memória deste pobre matuto que
com saudades dos que se perderam ou se foram sem se despedir deixando um vazio
no coração preenchido pelas lembranças de rostos que não vejo mais...
Passeio
na arvore da “Baba” próximo a coronel em um lugar chamado prainha, nomes
escritos no tronco apagados pelo tempo, brincadeiras singelas com gritos de
alegria em um sorriso de felicidade no aconchego dos meus daqueles que foram e
hoje não são mais, apenas lembranças deixadas dos “domingos à tarde”...
Churrasco
no “Parente” em uma mesa cheia ainda era criança em uma reunião inesquecível
que sem dar conta não valorizávamos estes momentos familiar de plena
harmonia.... Passeios no centro da cidade em ruas de pedras misturadas aos
trilhos dos bondes em uma Cimca chambord sem cinto de segurança onde seus cinco
lugares comportavam doze que como coração de mamãe abrigava todos misturados em
assentos e colos...
Com
meus pés descalços correndo pela rua do meio soltando papagaio e jogando pião que
como minha vida rodava para distante do lugar onde nasci e vivi minha infância.
Em meio à pobreza e fome na maior riqueza de sentimentos puro e verdadeiro no
amor dos meus pais... Nos pastos buscando lenhas colhendo pimentas silvestres,
caçando ninhos de passarinhos... “Com meus pés descalços” correndo pelo tempo
na estrada da minha vida, sentindo o carinho da terra onde nasci e morei e
quero ser enterrado junto dos meus...
O
CAIPIRA SONHADOR:
Um
homem do campo acostumado com o arado, bom no carteado, que gosta da roça que
por Deus foi presenteado, um matuto de rosto amarrado demonstrando estar meio
chateado. Um homem de conversa arrastada de fala abreviada de andar com perna
alongada, homem do campo que vive na sutileza no meio da mata que exibe sua
beleza...
Um
simples e humilde que não se define apenas estica um proseado na venda do Seu
Joaquim no meio dos sacos de arroz e de feijão segue sua vida em meio ao
bordão, se é pra viver do roçado tem que ter o rosto bronzeado que nem os
homens do praiado. O matuto sonhador que não esconde sua dor na perda do seu
amor que fugiu com o doutor...
Vive
na solidão do amargo coração na palhoça de sapé, no colchão de palha de milho
desfiado misturado ao capim com barba de bode e crina de animal, onde dorme o
matuto abandonado cheio de esperança e fé. Casa simples de picumã de esteira de
bambu e barro misturado com esterco para dar a ligação com roseira que serve de
enfeite no portão onde esta a carroça amarrada com seu cavalo alazão...
De
manhã no trilhar dos pássaros no barulho da bicharada sai o capiau babaquara
para o dia no roçado, nas lidas da terra avermelhada que um dia guardara em seu
seio o sertanejo guasca de olhos tristes e vida em desamor. Na desembocadura do
boqueirão em frente à bocarra do covão na terra de Deus seu criador, despede
aqui O CAIPIRA SONHADOR...
TERRA VERMELHA:
Sou filho com muita honra de um velho matuto, com seu chapéu surrado voz
de taquara rachada um olhar triste de alguém que sabe o que é sofrer e passar
lutas em uma vida de necessidades... Lembro que pela manhã pegava meu velho
embornal feito de pano de saco alvejado no anil com meus cadernos cheios de
orelhas, meus lápis ainda cotoco apontados com o canivete e saia para estudar
na escola. No antigo casarão do Caputo Mourão, juntos ao material de escola
levava a pequena marmita de meu pai, que trabalhava na antiga escola de
laticínio Cândido Tostes lugar onde se aposentou depois de
trabalhar por muito tempo...
Lá meu pai fazia seus queijinhos, que eram curados no grande freezer onde meu velho trabalhava com muita vontade e disposição, pois naquele serviço foi onde dos doze filhos; Criou e educou seis, pois chegaram a adultos apenas a metade. Tenho o costume de dizer que; dos doze restaram seis filhos...
Mas o meu maior e grande orgulho de meu pai era sua antiga profissão
candeeiro de boi. Foi seu primeiro oficio trabalhados desde a tenra idade dos
doze anos guiando a grande manada de garrotes pelas estradas empoeiradas dos
grandes sertões de Minas Gerais. Ali o jovem menino mineirinho dos pés
ligeiros; Candeava seus bois em cima de um cavalo com a velha e surrada sanfona
de oito baixas.
Sanfona que fazia a alegria das pionadas nas paragens de noite de lua cheia. Comendo feijão tropeiro entre as modas de viola e os acordes da sanfona tocando e cantando saudade do matão sua musica predileta... Um dia contava meu pai de muitas chuvas e inundações lá estava o jovem ainda novo candeeiro e seu primo cavalgando no meio das enxurradas. Naquele ano na estação das grandes chuvas ou estação chuvosa na chamada também de estação verde.
Chegando ao velho pontilhão onde estavam acostumados a passar a ponte coberta pelas águas caudalosas ao passar pela ponte não havia mais passagens, pois as madeiras e troncos foram levadas pelas águas do rio. Meu pai e seu primo com grande desespero e vontade de viver venceram este dia de luta saindo nadando.
Neste dia perderam o velho alazão cavalo cevado criado na fazenda de Boa Vista arraial próximo a Tabuleiro do Pomba como era chamada sua cidade...
Sanfona que fazia a alegria das pionadas nas paragens de noite de lua cheia. Comendo feijão tropeiro entre as modas de viola e os acordes da sanfona tocando e cantando saudade do matão sua musica predileta... Um dia contava meu pai de muitas chuvas e inundações lá estava o jovem ainda novo candeeiro e seu primo cavalgando no meio das enxurradas. Naquele ano na estação das grandes chuvas ou estação chuvosa na chamada também de estação verde.
Chegando ao velho pontilhão onde estavam acostumados a passar a ponte coberta pelas águas caudalosas ao passar pela ponte não havia mais passagens, pois as madeiras e troncos foram levadas pelas águas do rio. Meu pai e seu primo com grande desespero e vontade de viver venceram este dia de luta saindo nadando.
Neste dia perderam o velho alazão cavalo cevado criado na fazenda de Boa Vista arraial próximo a Tabuleiro do Pomba como era chamada sua cidade...
Nas grandes chuvas, no frio de inverno e nas poeiras da terra vermelha
nas estradas da vida levaram meu velho pelo mundo onde hoje meu matuto pai
descansa com seu corpo misturado a terra vermelha transformada e junto as
poeiradas, poeiras vermelhas do sertão que era sua vida de matuto e candeeiro
com sua labuta rural...
OSVALDINHO O MENINO CANDEEIRO DO ROÇADO:
O sol surge no horizonte com seu brilho ainda
tímido naquela invernada, o pequeno Osvaldinho acorda sonolento assopra o fogo
do velho lampião cuja fumaça preta de querosene deixava marcas pretas em seu
rosto juvenil de menino prosa e faceiro com seus doze anos, agora ele levanta
para suas tarefas e a difícil labuta da família Souza, gente simples e humilde
que vivia naquele rincão do pequeno arraial de Boa Vista...
O pequeno retireiro inicia seu duro serviço ajunta
as vaquinhas amarra as pernas para não levar um coice da vaca malhada cujas
tetas cheia são preparadas para a primeira ordenha do dia, naquela fria manhã
com seus ventos cortantes o menino Osvaldinho grita; Sossega malhada, pois
preciso tirar seu leite....
As seis grandes leiteiras com seus vinte litros são
colocada por aquele menino Osvaldinho, catraio magrinho de braços fortes
suspende os vasos de leite sobre as soleiras de madeira do carro de boi
atrelado com o Mimoso, do lado direito e o outro boi de chifre comprido com
nome de vaca o Estrela do lado direito.
Naquela manhã do roçado sai o carro de boi cujas
rodas grandes e pesadas com suas vassouras o pequeno arbusto que servia de um
lubrificante cuja seiva no atrito liberava um óleo natural exprimido entre os
eixos...
Na cálida e silenciosa manhã o barulho da carroça
acorda os colonos e caipiras com seu barulho e rangido como se fosse um grito
do pequeno menino caminha entre os roçados. O candeeiro pequeno e frágil grita
vamos mimoso, sossega estrela. Os pássaros começam sua alvorada com seus cantos
trilhados começando o dia dos bandos em suas revoadas.
O caipira caminha pelas estradas empoeiradas de
terra vermelha do sertão. Com seus pés descalços e cascorentos José Osvaldo de
Souza nome dado pelo seu velho pai... O menino agora atinge seu alvo chega ao
seu destino o armazém do Seu Maurílio: Que nome demais de bonito e diferente
soo, pensa o pequeno bacuri...
A vida em sua roda continua sem barulho diferente
daquele carro de boi do pequeno Osvaldinho leva o menino quarenta anos depois
para uma casa de pau a bique e chão batido de um remoto lugar chamado Fazenda
Tapera Alta.
Osvaldo homem feito diferente daquele pequeno
caipira candeeiro das juntas de bois Mimoso e Estrela escuta o choro do seu
decimo segundo filho. Um choro alto e trilhante que quebra o silencio daquela
noite quase natalina. O senhor Osvaldo pega a pequena criança em seus braços e
agora viaja em suas lembranças do velho armazém e grita com satisfação seu nome
será chamado Maurílio; que nome mais bonito soo.
Grita em um grito miúdo a velha parteira que sem
estudo nenhum colocou no mundo muitas crianças. E ali naqueles braços paterno o
menino deixa de chorar agora seguro naqueles braços de amor é colocado em seu
berço improvisado de colchão de pano de saco alvejado e palha lugar de muitos
grandes sonhos...
O guri cujo nome foi registrado uma semana depois
se chamava Maurílio Oswaldo de Souza; Que nome mais bonito soo. Viveu sem ser
famoso, mas com um coração orgulhoso do seu velho pai o menino candeeiro do
roçado Osvaldinho...
A VELHA SANFONA DE OITO BAIXAS:
Esta vendo aquele homem? Com um olhar triste fixado no horizonte com os
lombos encurvados pelo cansaço da vida e lida, andar lento com passos
arrastados de quem já sofreu e trabalhou incessantemente pelo pão de cada dia.
Uma voz de taquara rachada, embaçada e rouca que tanto me ensinou o
caminho certo a seguir, tantas historias contadas aos longos dos anos onde eu
deitava em seu colo com um olhar feliz e deslumbrado com suas estórias de reis
e príncipes...
Agora ele pega a velha sanfona e toca divinamente naquele pequeno e
surrado instrumento a velha de oito baixas que expressa às tristezas e
amarguras do velho Jeca. Sua musica preferida chamava-se saudade do matão e o
som com harmonia e graça enchia todo o nosso quarto.
Meu olhar de orgulho e admiração mirava naquele rosto cheio de rugas que
escrevia em seu rosto uma vida de lutas e sofrimento, agora o velho sanfoneiro
com seus olhos rasos d’água tocava as teclas pequenas do instrumento para
contar suas magoas e saudades...
Aquele homem valoroso de mãos calejadas pelo duro trabalho da lida
pegava nas horas de folga os velhos guarda chuvas dos vizinhos para consertar e
reformar costurando seus panos (tecidos) com aquela calma que lhe era peculiar,
trocava as varetas, reformava os cabos, trocava os gatilhos e as ponteiras
(quando estouram).
De repente não mais que de repente ajeitava o seu velho chapéu de couro
dos tempos que candeava boi pelas estradas empoeiradas da roça, meu pai saia
para o velho carteado com os amigos...
Sentado ao entardecer ao lado do portão de madeiras a sombra da grande
trepadeira com seu sombreado. Rosto ansioso os olhos de criança voltados para a
entrada da rua chamada do meio da fazenda Tapera Alta.
De repente surgia aquele homem cansado de mais um dia de labuta
carregando seus baldes cheirando a leite, corria com aquelas pernas pequenas ao
encontro daqueles braços entre sorrisos de alegria estendia minha pequenina mão
e na mesma hora recebia uma pequena moeda trocada por doces e balas. O velho
homem estava de volta ao lar...
À noite aquele velho homem ligava seu radio antigo que logo soava o seus
sons de violas e cânticos sertanejos embalando a harmonia da família o velho
lampião de querosene era aceso com seu peculiar isqueiro de pedra e o lampião
soltava sua fumaça preta enchendo o cômodo de chão batido com aquele cheiro de
óleo.
O silencio enchia a casa começava a radionovela que todos amavam e ao
som das ondas sonoras do velho radio contava a estória do Jeronimo o herói do
sertão que contava as lutas contra o crime do valente sertanejo e seu amigo o
fiel Saci. Quando terminava o dia a luz do velho lampião era soprada e a
escuridão tomava conta do velho casebre de pau a pique...
Esta vendo aquele velho homem sanfoneiro com sua velha sanfona de oito
baixas na mão? Este homem é meu pai...
Letra da musica Saudades De Matão
Tonico e Tinoco
Neste mundo eu choro a dor, Por uma paixão sem fim. Ninguém conhece a
razão. Porque eu choro num mundo assim. Quando lá no céu surgir, Uma peregrina
flor. Pois todos devem saber, Que a sorte me tirou foi uma grande dor. Lá no
céu, junto a Deus
Em silêncio a minha alma descansa.
E na terra, todos cantam, Eu lamento minha desventura desta pobre dor. Ninguém
me diz, Que sofreu tanto assim. Esta dor que me consome. Não posso viver, Quero
morrer. Vou partir pra bem longe daqui. Já que a sorte não quis, Me fazer
feliz. Quando lá no céu surgir, Uma peregrina flor. Pois todos devem saber. Que
a sorte me tirou foi uma grande dor...
Quando meu pai tocava e cantava esta musica lembrava-se da perda de
minha vó falecida. E suas lagrimas caiam molhando A VELHA SANFONA DE OITO
BAIXAS....
MEU CAFEZAL EM FLOR:
Lembro com saudade o lampião de querosene iluminando precariamente a
sala de chão batido, momento de ligar o velho rádio chiador colocado
estrategicamente na altura do ouvido de meu pai, isto tudo para ouvir melhor os
cânticos da roça no programa baú da saudade... E eu sentado no velho banco de
madeira maciça olhando para o meu velho pai com os olhos lacrimejados e como
dizíamos na época; orvalhados.
Minha mãe descendente indígena por sua natureza, sentada me olhando com
aqueles olhos negros, neste momento o caçulinha da família começa a ouvir as
historias das colheitas no cafezal, minha mãe contava das feridas deixadas
pelos nós e espinhos dos galhos em suas mãos calejadas pela dura vida no campo.
Um fio de lagrima escorre em seu rosto marcado pelas rugas do tempo e
dos longos dias trabalhando de sol a sol, marcando no seu rosto uma historia de
lutas e sofrimentos em meu aos colonos do arraial de Botafogo. Um arraial que
segundo a historia era um quilombo onde os escravos se refugiavam em busca de
sua liberdade. Lágrimas que se perdem no chão de terra batida de nossa pequena
sala.
Minha mãe contava suas historias em misto de dor e lembranças de tempos
perdidos nos anos de sua precoce vida. A colheita de café em meio as grandes
caminhadas nas orvalhadas das madrugadas com seus pés descalços. Passam os anos
mas ainda lembro dos momentos ao seu lado daquela que me deu a vida e que
muitas vezes caminhou entre o cafezal em flor...
Neste momento toca no velho rádio com seu chiado peculiar a musica de
Cascatinha e Inhana; MEU CAFEZAL EM FLOR. As lágrimas contida agora tornam-se
em um pranto silencioso das saudades, das lutas e dos sofrimentos de quem teve
sua vida marcada pelo cafezais. Enquanto eu viver, jamais esquecerei as feições
de seu rosto e o doce som de sua voz dizendo agora é tarde vai dormir que
amanhã tem que sair cedo para a escola. Deito no meu colchão de palha na
esperança de um novo dia...
Levanto de manhã no canto do galo carijó, naquilo que seria para mim uma
grande caminhada ate a velha escola, um casarão antigo com a pintura nas
paredes descascadas. Saia sem uniforme e sem merenda, um lápis e um caderno
orelhado no velho embornal feito de saco alvejado. Descalço com a velha calça
de suspensórios, camisa branca encardida pelo uso continuo.
Na volta da escola lembro que no velho portão de madeira a figura de
minha mãe e seu avental me esperando para o almoço daquele dia. Estas são as
lembranças de minha mãe colhedora de café do CAFEZAL EM FLOR...
Flor do Cafezal:
Cascatinha e Inhana!!!
Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal. Meu cafezal em flor,
quanta flor meu cafezal. Ai menina, meu amor, minha flor do cafezal. Ai menina,
meu amor, branca flor do cafezal. Era florada, lindo véu de branca renda...
Se estendeu sobre a fazenda, igual a um manto nupcial. E de mãos dadas
fomos juntos pela estrada, Toda branca e perfumada, pela flor do cafezal. Meu
cafezal em flor, quanta flor do cafezal. Meu cafezal em flor, quanta flor meu
cafezal...
Ai menina, meu amor, minha flor do cafezal. Ai menina, meu amor, branca
flor do cafezal. Passa-se a noite vem o sol ardente bruto. Morre a flor e nasce
o fruto no lugar de cada flor. Passa-se o tempo em que a vida é todo encanto.
Morre o amor e nasce o pranto, fruto amargo de uma dor. Meu cafezal em flor,
quanta flor meu cafezal. Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal...
LEMBRANÇAS DO MATUTINHO FELIZ:(CRÔNICA SAUDOSA DOS
CARROS DE BOI)...
Quem viu, viu quem viu de forma nenhuma vista o carro de boi com suas
formas rusticas da roça seguindo pelo estradão. O boi atrelado nos esteios
maciços de madeira hostil. O carro de boi lá vai, com seus bois de carreira,
também chamado boi de cabeçalho puxando com sua força o carro pesado com suas
rodas gemendo pela estrada poeirenta do roçado.
Ladeira que vem ladeira que vai carreiro gritando gerando uma harmonia
de som de gritos e gemidos do rodão de Cabreúva, a parte do centro é chamada
meião e lateralmente se limita com as duas cambotas, originando as pernas
arqueadas dos colonos abestados. O meião, perto das cambotas, tem sempre dois
buracos, o bocão, ou oca, que é para o som criar força e ecoar.
Com seus cânticos singelos e saudosos com o carreiro empunhando o varão
que com seus estalos apressa o boi velho e cansado que disputa suas forças com
o novilho novo e metido em suas pernas de juventude animal. O boi novo vai o
boi velho segura o trote arrastado e nesta disputa de idades mantem a sequencia
do carreirão. O chumaço que era feito de canelão mantem a harmonia das cantigas
da roça sem distinção.
Sem muitas rimas do contado levo no meu coração as lembranças da minha
mente do matuto cansado que não viu o tempo passar nas mudanças anos que apagam
nas sutilezas dos matrizes. Os carros que cantam sem cargas apenas um melodia
ouvidas de boas lembranças pedem o óleo de copaíba que servem também para curar
com seu teor medicinal cicatrizante por sua ação. O balsamo de copaíba que
cessa o grito do carrão e apaga o grito de dor das feridas das cangas e
mazelas.
Sou mineiro de nascença e roceiro de coração homem simples da cidade
arrancado de sua sina lembrando-se do que não viveu apenas favas contadas perto
das fogueiras da fazenda do Taperão. Olhos lagrimejados da saudade do pai
sanfoneiro por sua cultura no doce som dos acordeons que ouviu, ouviu que não
ouviu não houve mais o acordes do meu velho progenitor e protetor.
Para terminar esta crônica cruel por sua saudade do capiau, no carro de
boi existe a vara de ferrão, de carrapateiro, na frente leva ponteiro de ferro
na ponta do ferrão que, antes de ponta dando origem o espeto das abelhas, com
seu furo com duas argolas de ferro, que chacoalham e, assim, o boi já sabe que
lá vem cutucão e desamua no efeito do amuar, ou arranca mais. Carreiro bom não
espeta boi de tirar sangue. Só ponteia, nas lagrimas perdidas no poeirão
despede o mineiro caladão.
Maurílio Souza
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