MENSAGEM DA CRUZ

MENSAGEM DA CRUZ
ESPAÇO LITERARIO SOBRE A MENSAGEM DA CRUZ :

sexta-feira, 16 de junho de 2017

LIVRO ON-LINE CRÔNICA SERTANEJA CORAÇÃO DO COLONO DO ROÇADO!!! POR MAURÍLIO SOUZA...

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MEU COLCHÃO DE PALHA

Sou filho com muito orgulho de um casal que viveu grande parte de sua vida na roça, meu pai era o que chamavam de candeeiro (Pessoa que vai a frente da boiada ou carro de boi levando uma candeia para iluminar o caminho) de boi e seguia como guia a frente da boiada na difícil arte de conduzi-los, minha mãe era o que chamavam de apanhadores de café que era um serviço sazonal nas colheitas de café desde sua remota infância, não tinha bonecas e sim o trabalho duro da mulher do campo e que trabalhava nos roçados....

Meu pai é originário de um arraial chamado boa Vista onde viveu sua infância lidando com os animais fazendo o duro trabalho de peão e candeeiro, minha mãe originaria de um arraial de negros possivelmente um antigo quilombo, pois ficava em um lugar escondido e de difícil acesso chamado Botafogo onde lidava com a dureza do campo, os dois lugares ficam hoje próximo a uma cidade mineira chamado Tabuleiro, cujo cemitério abriga os restos mortais de minha irmã de criação Geni que amava muito e foi um grande sofrimento ao saber de sua morte prematura aos 23 anos de idade...

No dia do meu nascimento em uma época que era difícil sobrevivência infantil, ao nascer meu primeiro presente foi um pequeno colchão de palha de milho de origem caseira onde minha mãe confeccionou com barbantes e panos de saco de linhagem de fibras de juta que eram usados para armazenar os grãos do milho, como não tinha cama colocaram dois cavaletes de madeiras rústicas e em cima do rústico artefato colocou uma porta velha de madeira pequena onde abrigou meu pequeno e saudoso colchão de palha de milho.

Neste berço de cavalete e uma porta velha simples e humilde desenvolveram meus primeiros sonhos de uma vida melhor, tenho o costume de dizer o que a vida me deu hoje é muito mais do que recebi ao nascer; um pequeno e rústico colchão de palha. Seja fiel no pouco e sobre muito Deus te colocara Mateus 25:21...

A VELHA SANFONA DE OITO BAIXAS:

Esta vendo aquele homem? Com um olhar triste fixado no horizonte com os lombos encurvados pelo cansaço da vida e lida, andar lento com passos arrastados de quem já sofreu e trabalhou incessantemente pelo pão de cada dia. Uma voz de taquara rachada, embaçada e rouca que tanto me ensinou o caminho certo a seguir, tantas historias contadas aos longos dos anos onde eu deitava em seu colo com um olhar feliz e deslumbrado com suas histórias de reis e príncipes...

Agora ele pega a velha sanfona e toca divinamente naquele pequeno e surrado instrumento a velha de oito baixas que expressa às tristezas e amarguras do velho Jeca, sua musica preferida chamava-se saudade do matão e o som com harmonia e graça enchia todo o nosso quarto, meu olhar de orgulho e admiração mirava naquele rosto cheio de rugas que escrevia em seu rosto uma vida de lutas e sofrimento, agora o velho sanfoneiro com seus olhos rasos d’água tocava as teclas pequenas do instrumento para contar suas magoas e saudades...

Aquele homem valoroso de mãos calejadas pelo duro trabalho da lida pegava nas horas de folga os velhos guarda chuvas dos vizinhos para consertar e reformar costurando seus panos (tecidos) com aquela calma que lhe era peculiar, trocava as varetas, reformava os cabos, trocava os gatilhos e as ponteiras (quando estouram). De repente não mais que de repente ajeitava o seu velho chapéu de couro dos tempos que candeava boi pelas estradas empoeiradas da roça, meu pai saia para o velho carteado com os amigos...

Sentado ao entardecer ao lado do portão de madeiras a sombra da grande trepadeira com seu sombreado, rosto ansioso os olhos de criança voltados para a entrada da rua chamada do meio da fazenda Tapera Alta, de repente surgia aquele homem cansado de mais um dia de labuta carregando seus baldes cheirando a leite, corria com aquelas pernas pequenas ao encontro daqueles braços entre sorrisos de alegria estendia minha pequenina mão e na mesma hora recebia uma pequena moeda trocada por doces e balas. O velho homem estava de volta ao lar...

À noite aquele velho homem ligava seu rádio antigo que logo soava o seus sons de violas e cânticos sertanejos embalando a harmonia da família o velho lampião de querosene era aceso com o peculiar isqueiro de pedra que soltava sua fumaça preta enchendo o cômodo de chão batido com aquele cheiro de óleo. O silencio enchia a casa começava a radionovela que todos amavam e ao som sonoro do velho rádio contava a história do Jerônimo o herói do sertão que contava as lutas contra o crime do valente sertanejo e seu amigo o fiel Saci. Quando terminava o dia a luz do velho lampião era soprada e a escuridão tomava conta do velho casebre de pau a pique...

Esta vendo aquele velho homem sanfoneiro com sua velha sanfona de oito baixas na mão? Este homem é meu pai...

SAUDADES DOS MEUS

Saudades, palavra triste quando se perdeu os que amavam que partiram sem se despedir deixando um enorme vazio no meu coração... Saudades da velha palhoça em que me deitava no velho colchão de palha ouvindo as conversas de minha amada e saudosa mãezinha, saudades da minha avó que andava encurvada com suas pernas cansadas e frágeis com o olhar dos seus olhos do mais limpo e puro azul, saudades de nossa casa de pau a pique com luz de querosene, com seu velho radio que fazia a trilha sonora do nosso lar entre Emilinhas e marlenes velhas cantoras de radio e canções sertanejas do Tonico e Tinoco....

Hoje me sinto meio sozinho procurando rostos esquecidos pelo passar do tempo, saudades palavra triste de quem perdeu os seus amados e muitos dizem que o tempo cura, mas não vejo minha sanidade quando se trata das lembranças que não conseguem ser apagadas da mente deste velho matuto que não se envergonha das lagrimas derramadas por lembrar-se de momentos de harmonia familiar e almoços de domingo com a mesa colocadas de macarronadas e carne cozida guardadas em uma lata no meio das gorduras dos porcos matados no fundo do quintal sobre as folhas cortadas de bananeiras....

A velha sanfona ainda se faz escutar na voz de batráquios de meu pai quanta saudade de seu rosto lindo cheios de rugas que escreverem em seu rosto tempos de sofrimentos e privações do velho porão da loucura em Barbacena. Os olhos negros de minha mãe varrendo a casa de chão batido com seu avental sujo de carvão e lenhas buscadas nos pastos da antiga fazenda Tapera Alta e Chacrinha, trabalhos na lida do rústico fogão de lenha com seu fogo que um dia deixaram marcas em minha pele, dores não esquecidas do tempo que engatinhava entre lenhas e mobílias rústicas e velhas...

Saudades dos gritos de meus irmãos ao sábado à tarde tomando banho na fria agua do poço no fundo de nosso grande quintal rodeados pelos bichos da casa chamada de pau a pique com cobertura de sape e sua velha chaminé de manilha crua soltando fumaças e saudades, o velho sabão tirava as sujeiras das lidas no banho de regador e bacia com agua aquecida no fogão de lenha ou não tempo de necessidades, faltas e sofrimentos, mas se fosse para viver novamente com os meus viveria só para estar com aqueles que hoje só me deixaram a saudade, única lembranças e herança guardadas de suas vidas...

Saudades, palavra triste quando se perdeu os que amavam que partiram sem se despedir deixando um enorme vazio no meu coração. Saudades de perdas de momentos e dias que se apagam deixando lembranças eternizadas pelas lágrimas que hoje regam meu chão fazendo nascerem às sementes de uma esperança que certamente surgiram brotos e arvores de frutos dos amores não esquecidos que me abandonaram a beira da estrada cruel dos não esquecimentos e dores.....

Um dia nos encontraremos novamente e Essa saudade que hoje me faz chorar neste momento, certamente haverá um reencontro onde nossas almas serão puras na felicidade eternizadas pelas misericórdias de Deus.

ULTIMA LÁGRIMA

Agora neste momento no silencio da cálida noite fecho meus olhos, e sou guiado pelas minhas lembranças fugas de tempos distantes e remotos;

Háaa, aquela casa de pau a pique, chão batido de chaminé liberando a fumaça do fogão de lenha. Casa simples de colchão de palha e gente humilde que anda com seus pés descalços, povo de fala arrastada, povo mateiro que busca lenha no mato e vive de maneira simples e faceira. Recém-chegados da roça da vida no meio do mato sofrendo os ardis da dura batalha do campo e dos boqueirões com suas mãos calejadas pelas enxadas, agora vivem assustados na cidade grande uma selva de pedra de gente esquisita e diferente sem cumprimentos e salvas que passam sem olhar, com olhares soberbos e distantes...

Vivem nos tratamentos dos animais, cavalos, cabritos, patos e marrecos ouvindo os cantos dos pássaros presos nas gaiolas e viveiros. Pela manhã as galinhadas se achegam na porta cozinha aquela mulher de figura pequena com seu avental preso em suas mãos cheio de milhos caminha lentamente com seu chinelo de dedo para espalhar as sementes da alimentação das bicharadas. Casa pequena de janelas entreaberta cortinas nas portas dividindo os cômodos do pequeno lar de meu nascimento...

A luz fraca do lampião de querosene aceso no chegar da escuridão da noite, nas fogueiras do quintal com suas chamas vermelha em suas multicores clareando o breu de mais um final do dia. Agora sob a luz do lampião a família se reúne assentados nos bancos de madeira rustica com seus assentos endurecidos, olhares atentos no ouvir das historias da roça o pequeno menino de banho tomado na bacia com suas roupas remendadas a mão deita no doce colo de sua mãe Nivalda, recebendo carinho e afagos em seus cabelos dos seus irmãos. Hoje somos seis, mas éramos doze. O pequeno caçula dos doze fecha seus olhos e adormece ouvindo o doce som sonoro do radio única diversão da família Souza...

Agora abro meus olhos marejados ainda deixando cair a ultima lagrima da saudade de minha família perdida pelo tempo e pelo passar das jornadas da vida deste homem no chegar dos seus sessenta anos, com seu rosto marcado com suas cãs que servem de cobertura da cabeça agora sem o seu chapéu de palha...

POEMA SEM RIMA DO COLONO DO ROÇADO

Nasci no meio da roça em uma casa de palhoça, vivendo no meio do mato caçando ninhos de passarinhos... Abria as porteiras, pulando no açudão na bocada do boqueirão. Hoje moro na cidade, mas meu coração ficou no sertão, você pode tira o homem do roçado mais não tira o roçado do homem. Vivia da colhendo do café com feridas na mão, caminhando descalço com os pés rachados no meio das leras de batata, plantando tomates e colhendo milho com seus espetos nos milharais... Tomando banho de regador agua que dói nas lembranças guardadas armazenadas nas caixas da mente e do coração com muito amor...

De manhã saia com o carro de boi que roncava no estradão despertando os colonos para o trabalho dos roçados com suas mãos calejadas saiam com suas enxadas e pés descalços caminhando na terra vermelha da estrada do boqueirão. O sol rachando no alto do céu com sua força e fulgor queimando as costas dos colonos marcadas com suas peles queimadas escrevendo suas marcas com rugas que descrevem a dureza do roçado...

No trilhado dos pássaros da sinfonia de canários, coleiros, merros e sanhaços, as aves saindo de seus ninhos voando alto e recebendo os raios do sol de mais um dia na roça. As capivaras, os tatus saindo de seus buracos, coelhos do mato correndo na embocada, jacus e Piriá correndo para ribeirão. No brechão ouço o piado da saracura correndo sem deixar rastros, o brechó morada das traíras que saem na calada da noite ficando nas beiradas fazendo suas caçadas. a noite diz para o dia que o sol vai se esconder e a lua vai surgir, os pássaros em suas revoadas pousando na invernada nos bambuzais e mangueirais anunciando o fim de mais um dia do colono no roçado...

LEMBRANÇAS DO MATUTINHO FELIZ
(CRÔNICA SAUDOSA DOS CARROS DE BOI)

Quem viu, viu quem não viu de forma nenhuma verão o carro de boi com suas formas rústicas da roça seguindo pelo estradão. O boi atrelado nos esteios maciços de madeira hostil. O carro de boi lá vai, com seus bois de carreira, também chamado boi de cabeçalho puxando com sua força o carro pesado com suas rodas gemendo pela estrada poeirenta do roçado. Ladeira que vem ladeira que vai o carreiro gritando gerando uma harmonia de som de gritos e gemidos do rodão de Cabreúva, a parte do centro é chamada meião e lateralmente se limita com as duas cambotas, originando as pernas arqueadas dos colonos abestados. O meião, perto das cambotas, tem sempre dois buracos, o bocão, ou oca, que é para o som criar força e ecoar.

Com seus cânticos singelos e saudosos com o carreiro empunhando o varão que com seus estalos apressa o boi velho e cansado que disputa suas forças com o novilho novo e metido em suas pernas de juventude animal. O boi novo vai o boi velho segura o trote arrastado e nesta disputa de idades mantem a sequencia do carreirão. O chumaço que era feito de canelão mantem a harmonia das cantigas da roça sem distinção.

Sem muitas rimas do contado levo no meu coração as lembranças da minha mente do matuto cansado que não viu o tempo passar nas mudanças dos anos que apagam nas sutilezas dos matrizes. Os carros que cantam sem cargas apenas uma melodia ouvidas em boas lembranças pedem o óleo de copaíba que servem também para curar com seu teor medicinal cicatrizante por sua ação. O balsamo de copaíba que cessa o grito do carrão e apaga o grito de dor das feridas das cangas e mazelas.

Sou mineiro de nascença e roceiro de coração homem simples da cidade arrancado de sua sina, lembrando-se do que não viveu apenas favas contadas perto das fogueiras da fazenda do Taperão. Olhos lacrimejados da saudade do pai sanfoneiro por sua cultura no doce som dos acordeons quem ouviu, ouviu quem não ouviu não houve mais o acordes do meu velho progenitor e protetor.

Para terminar esta crônica cruel por sua saudade do capiau, no carro de boi existe a vara de ferrão, de carrapateiro, na frente leva ponteiro de ferro na ponta do ferrão que, antes de ponta dando origem o espeto das abelhas, com seu furo com duas argolas de ferro, que chacoalham e, assim, o boi já sabe que lá vem cutucão e desamua no efeito do amuar, ou arranca mais no carreirão. Carreiro bom não espeta boi nem tira sangue do garrotão. Só ponteia, segundo nas lágrimas perdidas do poeirão despede o mineiro caladão...

VIDA SERTANEJA DO CAIPIRA SONHADOR:
Eu venho do sertão do pé da serra da colheita do algodão, das mãos calejadas e pés cascorentos e empoeirados da lida da roça em seu roçado. Eu venho das colheitas dos cafezais barulhentos dos vendavais que empurravam os galhos de café riscando meu rosto cheio de marcas e rugas que contam minha historia com riscos e rabiscos de um rosto com feições de cansaço da vida do mateiro. Eu venho dos banhos da cachoeira, das braçadas dos rios com aguas caudalosas. Venho das caçadas dos jacus, antas e jacarés. Venho dos ninhos dos passarinhos dos coleiros e canarinhos que com seus trilhados fazendo as trilhas sonoras dos rincões de Minas Gerais...

Venho dos carros de bois, das retiradas de leite da mimosa vaca amansada nos laço da fazenda. Venho das pescas de carás e tucunarés das profundas aguas barrentas do açudão. Venho das cercas de taquaras dos bambus cortados no meio que cercam o casebre de taipas. Venho dos galinheiros dos galos e galinhas carijós, do canto que despertam as matas dos galos galinzes que corriam assustados do galo índio manda chuva do terreirão com seu chão endurecido dos pés descalços dos colonos. Venho das musicas caipira de raiz, das sanfonas e viola caipira que faz os sertanejos chorarem com seus versos e harmonia do amor não correspondido da cabocla mais faceira e formosa do lugar...

Venho das aguas de coité guardadas nas cabaças de barro de argila. Venho dos fogões de lenha com suas fumaças liberadas nos chaminés de manilhas, venho do arroz com feijão, das farinhas de mandiocas misturadas ao açúcar que eram nossa sobremesa, doce gostoso e entalador. Venho das coberturas de sapés presos nos cipós nos entrelaçados das esteiras que faziam o forro guardador. Venho dos piados dos jacarés que soavam nos brejos do estradão, venho dos cantos de batráquios com rãs, sapos e pererecas. Venho das falas arrastadas dos pitos de palhas e cachimbo com sua fumaça mal cheirosa. Venho da lamparina de querosene que marcavam os olhos e nariz escurecendo os lados dos olhos deixando eles ainda mais tristes das prosas que contam a VIDA SERTANEJA DO CAIPIRA SONHADOR...

TERRA VERMELHA DO ESTRADÃO

Sou filho com muita honra de um velho matuto, com seu chapéu surrado voz de taquara rachada um olhar triste de alguém que sabe o que é sofrer e passar lutas na vida e necessidades... Lembro de manhã pegava meu velho embornal feito de pano de saco alvejado no anil com meus cadernos cheios de orelhas meus lápis ainda cotoco apontados com o canivete e saia para estudar na escola no antigo casarão do Caputo Mourão, juntos ao material de escola levava a pequena marmita de meu pai, que trabalhava na antiga escola de laticínio Cândido Tostes lugar onde se aposentou depois de trabalhar por muito tempo... Lá meu pai fazia seus queijinhos curavam os queijos no grande freezer onde meu velho trabalhava com muita alegria, pois naquele serviço foi onde dos doze filhos criou chegando a adulto apenas a metade onde costumo dizer que; “dos doze restaram seis filhos”...

Mas o meu maior orgulho de meu pai era sua antiga profissão candeeiro de boi que ele trabalhava desde a tenra idade dos treze anos guiando a grande manada de garrotes pelas estradas empoeiradas dos grandes sertões de Minas Gerais, onde o jovem mineiro candeava seus bois em cima de um cavalo com a velha e surrada sanfona de oito baixas que fazia a alegria nas paragens comendo feijão tropeiro entre as modas de viola e os acordes da sanfona tocando e cantando saudade do matão sua musica predileta...

Um dia contava meu pai de muitas chuvas e inundações lá estava o jovem ainda novo candeeiro e seu primo cavalgando no meio das enxurradas naquele ano na estação das grandes chuvas ou estação chuvosa na chamada também de estação verde, chegando ao velho pontilhão onde estavam acostumados a passar a ponte coberta pelas águas caudalosas ao passar pela ponte não havia mais passagens, pois as madeiras e troncos foram levadas pelas águas do rio, meu pai e seu primo com grande desespero e vontade de viver venceram este dia de luta saindo nadando, mas perderam o velho alazão cavalo cevado criado na fazenda de Boa Vista arraial próximo a Tabuleiro do Pomba como era chamada sua cidade...

Nas grandes chuvas, no frio de inverno e nas poeiras da TERRA VERMELHA DO ESTRADÃO da vida levaram meu velho pelo mundo onde hoje meu matuto pai descansa com seu corpo misturado a terra vermelha transformando em poeiras, poeiras vermelhas do sertão da sua vida de matuto e candeeiro com sua labuta rural...

VIDA DO SERTANEJO GUASCA:

Um homem do campo acostumado com o arado, bom no carteado, que gosta da roça que por Deus foi presenteado, um matuto de rosto amarrado demonstrando estar meio chateado. Um homem de conversa arrastada de fala abreviada de andar com perna alongada, homem do campo que vive na sutileza no meio da mata que exibe sua beleza...

Um simples e humilde que não se define apenas estica um proseado na venda do Seu Joaquim no meio dos sacos de arroz e de feijão segue sua vida em meio ao bordão, se é pra viver do roçado tem que ter o rosto bronzeado que nem os homens do praiado. O matuto sonhador que não esconde sua dor na perda do seu amor que fugiu com o doutor...

Vive na solidão do amargo coração na palhoça de sapé, no colchão de palha de milho desfiado misturado ao capim com barba de bode e crina de animal, onde dorme o matuto abandonado cheio de esperança e fé. Casa simples de picumã de esteira de bambu e barro misturado com esterco para dar a ligação com roseira que serve de enfeite no portão onde esta a carroça amarrada com seu cavalo alazão...

De manhã no trilhar dos pássaros no barulho da bicharada sai o capiau babaquara para o dia no roçado nas lidas da terra vermelha que um dia guardara em seu seio o sertanejo guasca de olhos tristes e vida infeliz, na desembocadura do boqueirão em frente à bocarra do covão na terra de Deus seu criador...

“Deus abençoe o caipira do campo”

OSVALDINHO O MENINO CANDEEIRO DO ROÇADO:

O sol surge no horizonte com seu brilho ainda tímido naquela invernada, o pequeno Osvaldinho acorda sonolento assopra o fogo do velho lampião cuja fumaça preta de querosene deixava marcas pretas em seu rosto juvenil de menino prosa e faceiro com seus doze anos, agora ele levanta para suas tarefas e a difícil labuta da família Souza, gente simples e humilde que vivia naquele rincão do pequeno arraial de Boa Vista...

O pequeno retireiro inicia seu duro serviço ajunta as vaquinhas amarra as pernas para não levar um coice da vaca malhada cujas tetas cheia são preparadas para a primeira ordenha do dia, naquela fria manhã com seus ventos cortantes o menino Osvaldinho grita; “sossega malhada”, pois preciso tirar seu leite....

As seis grandes leiteiras com seus vinte litros são colocada por aquele menino Osvaldinho, catraio magrinho de braços fortes suspende os vasos de leite sobre as soleiras de madeira do carro de boi atrelado com o “Mimoso” do lado direito e o outro boi de chifre comprido com nome de vaca o “estrela” do lado direito. Naquela manhã do roçado sai o carro de boi cujas rodas grandes e pesadas com suas vassouras o pequeno arbusto que servia de um lubrificante cuja seiva no atrito liberava um óleo natural exprimido entre os eixos...

Na cálida e silenciosa manhã o barulho da carroça acorda os colonos e caipiras com seu barulho e rangido como se fosse um grito do pequeno menino caminha entre os roçados. O candeeiro pequeno e frágil grita “vamos mimoso, sossega estrela”, os pássaros começam sua alvorada com seus cantos trilhados começando o dia dos bandos em suas revoadas, o caipira caminha pelas estradas empoeiradas de terra vermelha do sertão. Com seus pés descalços e cascorentos José Osvaldo de Souza nome dado pelo seu velho pai... O menino agora atinge seu alvo chega ao seu destino o armazém do Seu Maurílio “que nome demais de bonito e diferente soo” pensa o pequeno bacuri...

A vida em sua roda continua sem barulho diferente daquele carro de boi do pequeno Osvaldinho leva o menino quarenta anos depois para uma casa de “pau a bique e chão batido” de um remoto lugar chamado Fazenda Tapera Alta. Osvaldo homem feito diferente daquele pequeno caipira candeeiro das juntas de bois Mimoso e Estrela escuta o choro do seu decimo segundo filho um choro alto e trilhante que quebra o silencio daquela noite quase natalina o senhor Osvaldo pega a pequena criança em seus braços e agora viaja em suas lembranças do velho armazém e grita com satisfação seu nome será chamado Maurílio “que nome mais bonito soo” fala em um grito miúdo a velha parteira que sem estudo nenhum colocou no mundo muitas crianças. E ali naqueles braços paterno o menino deixa de chorar agora seguro naqueles braços de amor é colocado em seu berço improvisado de colchão de pano de saco alvejado e palha lugar de muitos grandes sonhos...

O guri cujo nome foi registrado uma semana depois se chamava Maurílio Oswaldo de Souza; “que nome mais bonito soo”. Viveu sem ser famoso, mas com um coração orgulhoso do seu velho pai o menino candeeiro do roçado Osvaldinho...

COM MEUS PÉS DESCALÇOS

Nasci em colchão de palha em uma casa de pau a pique de chão batido com fogão de lenha ligado a uma chaminé de manilhas que sobressaia no telhado de sapé... Tomava água de coité guardadas na moringa de barro de argila, águas tiradas do poço com tampas de madeira apodrecidas pela umidade em balde e carretilha, ali no poço era o habitat de uma trairá que fazia a limpeza da cisterna rota....

Nasci na fazenda “Tapera Alta”, próximo à chacrinha que tinha a porteira vermelha onde mais na frente à ponte também chamada vermelha.... Sou filho de uma colhedora de café com as mãos calejadas com um tropeiro que candeava bois pelos montes de Gerais que descansava em paradas nas estalagens, comendo feijão tropeiro com farinha nas estradas de chão e barro de Minas Gerais...

Aos domingos almoço na Grama na reunião familiar com todos da família presente em momentos do passado que hoje estão presentes na memória deste pobre matuto que com saudades dos que se perderam ou se foram sem se despedir deixando um vazio no coração preenchido pelas lembranças de rostos que não vejo mais...

Passeio na arvore da “Baba” próximo a coronel em um lugar chamado prainha, nomes escritos no tronco apagados pelo tempo, brincadeiras singelas com gritos de alegria em um sorriso de felicidade no aconchego dos meus daqueles que foram e hoje não são mais, apenas lembranças deixadas dos “domingos à tarde”...

Churrasco no “Parente” em uma mesa cheia ainda era criança em uma reunião inesquecível que sem dar conta não valorizávamos estes momentos familiar de plena harmonia.... Passeios no centro da cidade em ruas de pedras misturadas aos trilhos dos bondes em uma Cimca chambord sem cinto de segurança onde seus cinco lugares comportavam doze que como coração de mamãe abrigava todos misturados em assentos e colos....

Com pés descalços correndo pela rua do meio soltando papagaio e jogando pião que como minha vida rodava para a distancia do lugar onde nasci e vivi minha infância em meio à pobreza e fome na maior riqueza de sentimentos puro e verdadeiro no amor dos meus pais... Nos pastos buscando lenhas colhendo pimentas silvestres, caçando ninhos de passarinhos... “Com meus pés descalços” correndo pelo  tempo na estrada de minha vida, sentindo o carinho da terra onde nasci e morei e quero ser enterrado junto dos meus...

MINHAS LEMBRANÇAS EM UM LUGAR CHAMADO PASSADO

Hoje acordei com saudades do lugar onde nasci e cresci uma casa de pau a pique com um grande quintal.... Uma trepadeira na entrada de minha casa com uma pequena varanda onde sentávamos para conversar, enquanto esperava meu pai Oswaldo (apelidado de Major) chegar do serviço... Com um olhar cansado duas latas de soro de onde trabalhava na antiga “Candido tostes” em uma seção chamada “cura” na verdade era um grande freezer onde meu pai trabalhava...

Quando de longe via meu pai chegando corria para seus braços o abraçava e pedia uma moeda onde comprava doces e balas em um botequim perto de minha casa... Em um grande quintal meu pai criava seus porcos onde gostava de ajudar na limpeza dos chiqueiros, mais o que mais gostava era de estar com ele e desfrutar da sua presença tantas vezes desejada nos tempos perdidos em sua internação em um hospital de loucos em Barbacena... Fui o único filho que meu pai curtiu o crescimento e as facetas e peripécias de criança...

Havia muitas arvores frutíferas plantadas e cuidadas pela família; uma figueira na porta da cozinha onde de seus galhos fazia de cavalo e brincava sobre ele, dois abacateiros cujos frutos eram distribuídos pelos vizinhos, amigos de longas datas na rua chamado do meio na “Tapera Alta” onde nasci e cresci. Uma mangueira cujas folhas balançavam ao sopro dos ventos, mas seus frutos eram minhas exclusividades na casa, por ser o caçula de doze irmãos onde apenas seis sobreviveram, por isso era mimado por todos da casa...

Uma goiabeira com goiabas deliciosas, ao lado de bananeiras, canas de açúcar fazia a alegria do final de semana onde sentávamos ao lado de minha mãe (Nivalda, uma mulher descendente indígena que não sabia ler e escrever, sem nem um dente perfeito em sua boca e que lavava roupas para fora onde ajudava no pequeno orçamento da família) que distribuía igualmente os pedaços da cana adocicada pela mãe natureza...

Ao deitar meu pai contava historias de príncipes e princesas, sendo que geralmente o príncipe sempre se chamava Lilinho (apelido amoroso) que era como todos da casa me chamavam.... Hoje o que ficou foram às lembranças de meus pais meus irmãos, onde às vezes faltava tudo mais uma coisa nunca faltou, o amor de uma família muito pobre das coisas mais muito rica na expressão de amizade, carinho e dedicação uns para com outros. “Tempos que não voltam mais, deixados para traz mortos em lugar chamado passado, mais muito vivo hoje em minhas lembranças”...

AO ENTARDECER

Ao entardecer sol se pondo beijando o horizonte, que se despede de um dia com uma cor avermelhada, sozinho o caminhante errante busca seu porto seguro ou um lugar tranquilo para adormecer, perdido em seus medos, enfrentando sua solidão... Sem sonhos sem esperança caminha seu caminho sofrido e girando em torno de um destino que nunca tem seu fim...

Como o poeta solitário encontra sua companhia nas letras que escreve, assim como na solidão o compositor busca andar de mãos dadas com suas musicas em meios aos ritmos e melodias, como é bom ao entardecer ter um lugar para repousar, uma casa para morar, um teto para se abrigar, pessoas para abraçar em lugar que se chama de lar...

Ao entardecer quando o sol esta deixando apagar seu brilho o solitário encontra sua companhia, Daquele que não deixa ninguém só, Aquele em que podemos repousar embaixo de suas asas protetoras, o Pai dos aflitos, dos órfãos e abandonados que em seu amor recebe em um forte abraço em seus braços entendidos em uma cruz de dores, um Deus apaixonado que tem em seu corpo as marcas das feridas do amor que acolhe os necessitados e solitários...

Sendo Ele mesmo o sol de um lugar que nunca se encontra o entardecer, um sol que com brilho intenso afugenta os medos dos solitários...

UM NOVO COMEÇO

Você em sua vida já desejou apagar momentos do passado ou simplesmente voltar atrás e tomar outras decisões? Desejou certamente escrever uma nova historia nas paginas bolorentas do passado? Quando olhamos pelo retrovisor dos nossos dias ficamos como Paulo que escreveu este texto; “esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão”. Diz o filosofo “errar é humano”, mas eu digo que aprender com os erros é sabedoria...

Olha meu amigo se você não pode mudar o passado deixa que ele te mude e traga outra direção para sua vida!!!

Quantas oportunidades perdidas, quantos amigos deixados pelo rastro de nossos caminhos ficaram para trás. Quantos momentos de brigas trocaríamos por abraços, quantas palavras rudes trocaríamos por um eu te amo, quantos tapas nos rostos trocaríamos por um ósculo santo, quantos empurrões trocaríamos por um afago, quantas insolências trocaríamos por um pedido de perdão, quantos atitudes soberbas e orgulhosas trocaríamos por uma palavra “eu estava errado”...

Qual o tamanho da lista de boas oportunidades que deixamos passar? Quantos boas ações deixamos escapar? Mas infelizmente não existe aquela maquina de voltar no tempo, não há mais como voltar atrás e fazer algo melhor, por isso hoje, no momento chamado agora nós podemos construir no presente um futuro glorioso melhor que no passado...

Olha na construção do futuro não há mais lugar para erros, pois errar pode ser humano, mas vai explicar isso para aquela família de um paciente que perdeu a vida por um erro medico, Olha o grande segredo para construir um futuro sólido esta no fundamento, este será a base de sustentação de nossas atitudes e palavras, será a motivação para as nossas ações...

Portanto firmamos nossos pés no único fundamento estabelecido na terra, que nos levara a sermos melhores com um futuro melhor. O fundamento da palavra de Deus a escritura sagrada que diz: “2 Timóteo 3.16: Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça”...
  
Partindo do principio dos fundamentos de Deus dos quais podemos entender melhor tanto o que Deus espera de nós quanto às maravilhas que Ele nos tem preparado para nosso futuro.

FIM

MAURÍLIO SOUZA


 



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