POESIA
DO MATO NO POEMA DO BABAQUARA:
Nasci
no meio da roça em uma casa de palhoça, vivendo no meio do mato caçando ninho
do falcão. Abria as porteiras, pulando no ribeirão, hoje moro na cidade com
saudade sertão. Colhendo café na derriçagem das folheiras, caminhando
descalço no meio das batatas com suas leras, plantando tomates e colhendo milho
nos milharais. Tomando banho de regador lembranças guardadas com muito amor.
De
manhã saia com o carro de boi que rinchava no estradão despertando os colonos
para o trabalho no roção que saiam com suas enxadas e pés descalços caminhando
na terra vermelha da estrada do boqueirão. No trilhado dos pássaros da sinfonia
de canários, coleiros ou bigodinho e pintassilgo na tranquilidade das matas e
florestas com seus jacus e siriemas, animais do meio do mato de pelos e penas. Onças
e antas, jacarés e capivaras animais de berros e urros de dor que fazem dos
efeitos sonoros das matas com seus sons horripilantes e assustador...
O
verde das arvores em contrastes com as multicores de pássaros e borboletas
criando uma tela de paisagens com o brilho e danças dos matizes e seus amores. O
Sol nasce nas campinas soberano e com autoridade se impõe sobre a escuridão
trazendo claridade, a noite romântica e cheia de estrelas com sua lua formosa e
graciosa com seu bricão inspirando os poetas com suas letras e musicas ecoando
na amplidão...
O
caboclo da roça chamado de vários nomes e significados construíram e
alimentaram este país varonil dos verdes das matas do azul do céu anil. Do
amarelo do ouro, nos brancos das nuvens com suas formas e efeitos desenhando os
pensamentos com amplidão nos firmamentos...
O
Sertanejo Guaco, o Roceiro e Caipira, o Caburé e Araruama, O Arigó e Bugre, o
Babaquara e Baicuara, o Biriba e Botocudo, o Bruaqueiro e caburé, não importa o
nome do Caiçara ele sempre será o caboclo barraqueiro. Sertanejo um homem
diferente de gostos diversos da broa de fubá com café de manhã, do frango com
quiabo uma misturada de jiló com abobrinha feito com bambuzá sempre carregada
na pimenta da canjiquinha com costelinha. Das comidas sem frescura do angu ao
mugunzá...
Das
festas do roceiro, dos forros e vaquejadas, das festas juninas com suas
quadrilhas e do fole dos sanfoneiros sentados nas estacas. Com suas cantorias
nas batidas das latadas, da espingarda do soca-soca dos milhos da broca, das
pipocas no caldeirão e do amor no coração. Despede-se com muito amor e sorriso
faceiro encantador com a vara de bambu para pescar tucunaré na bocada do
ribeirão, no silencio da mata o sono pega o caboclo sonhador abrindo seu bocão.
Com
a minhoca de isca e o cipó timbupeva para colocar o pescado no iscado. Eita so
que dia bunito e florido no roçado de Paraopeba. Com os peixes no caritó
voltando para minha Biboca com minha cama de bambu e colchão de palha, mas
antes vou emendar um bigode numa prosa fuxiqueira ate fica meio troncho e
dormir no meu terreiro... Inté!!!
O
CAIPIRA SONHADOR:
Um
homem do campo acostumado com o arado, bom no carteado, que gosta da roça que
por Deus foi presenteado, um matuto de rosto amarrado demonstrando estar meio
chateado. Um homem de conversa arrastada de fala abreviada de andar com perna
alongada, homem do campo que vive na sutileza no meio da mata que exibe sua
beleza...
Um
simples e humilde que não se define apenas estica um proseado na venda do Seu
Joaquim no meio dos sacos de arroz e de feijão segue sua vida em meio ao
bordão, se é pra viver do roçado tem que ter o rosto bronzeado que nem os
homens do praiado. O matuto sonhador que não esconde sua dor na perda do seu
amor que fugiu com o doutor...
Vive
na solidão do amargo coração na palhoça de sapé, no colchão de palha de milho
desfiado misturado ao capim com barba de bode e crina de animal, onde dorme o
matuto abandonado cheio de esperança e fé. Casa simples de picumã de esteira de
bambu e barro misturado com esterco para dar a ligação com roseira que serve de
enfeite no portão onde esta a carroça amarrada com seu cavalo alazão...
De
manhã no trilhar dos pássaros no barulho da bicharada sai o capiau babaquara
para o dia no roçado, nas lidas da terra avermelhada que um dia guardara em seu
seio o sertanejo guasca de olhos tristes e vida em desamor. Na desembocadura do
boqueirão em frente à bocarra do covão na terra de Deus seu criador, despede
aqui O CAIPIRA SONHADOR... Inté!!!
VIDA
SERTANEJA DO CAIPIRA SONHADOR:
Eu
venho do sertão do pé da serra da colheita do algodão, das mãos calejadas e pés
cascorentos e empoeirados da lida da roça em seus roçados. Eu venho das
colheitas dos cafezais, dos barulhentos vendavais que empurravam os galhos de
café riscando meu rosto cheio de marcas e rugas que contam minha historia com
riscos e rabiscos de um rosto com feições de cansaço da vida do mateiro.
Eu
venho dos banhos das cachoeiras, das braçadas dos rios com aguas caudalosas.
Venho das caçadas dos jacus, capivaras, antas e jacarés. Venho dos ninhos dos
passarinhos dos coleiros e canarinhos que com seus trilhados fazendo as trilhas
sonoras dos rincões de Minas Gerais... Venho dos carros de bois, das retiradas
de leite da mimosa vaca amansada nos laço da fazenda Tapera Alta. Venho das
pescas de carás e tucunarés das profundas aguas barrentas do açudão. Venho das
cercas de taquaras dos bambus cortados no meio que cercam o casebre de taipas.
Venho
dos galinheiros dos galos e galinhas carijós, dos galos índio valente por natureza
dono do terreno. Venho dos cantares que despertam as matas dos galos galinzes
que corriam assustados do galo índio manda chuva do terreirão com seu chão
endurecido d e nossos pés descalços dos colonos. Venho das musicas caipira de
raiz, das sanfonas e viola caipira que faz os sertanejos chorarem com seus
versos e harmonia do amor não correspondido da cabocla mais faceira e formosa
do lugar.
Venho
das aguas de coité guardadas nas cabaças de barro de argila. Venho dos fogões
de lenhas com suas fumaças liberadas nos chaminés de manilhas de barro, venho
do arroz com feijão, das farinhadas de mandiocas misturadas ao açúcar que eram
nossa sobremesa, doce gostoso e entalador. Venho das coberturas de sapés presos
nos cipós nos entrelaçados das esteiras que faziam o forro guardador. Venho dos
piados dos jacarés que soavam nos brejos do estradão, venho dos cantos de
batráquios com rãs, sapos e pererecas.
Venho
das falas arrastadas dos pitos de palhas e cachimbadas na sua fumaça mal
cheirosa. Venho da lamparina de querosene que marcavam os olhos e nariz
escurecendo os lados dos olhos deixando eles ainda mais tristes das prosas que
contam a VIDA SERTANEJA DO CAIPIRA SONHADOR... Inté!!!
HISTORIA
DO ROÇADO; MEU COLCHÃO DE PALHA:
Sou
filho com muito orgulho de um casal que viveu grande parte de sua vida na roça,
meu pai era o que chamavam de candeeiro (Pessoa que vai a frente da boiada ou
carro de boi levando uma candeia para iluminar o caminho) de boi e seguia como
guia a frente da boiada na difícil arte de conduzi-los...
Minha
mãe era o que chamavam de apanhadores de café que era um serviço sazonal nas
colheitas de café desde sua remota infância, não tinha bonecas e sim o trabalho
duro da mulher do campo e que trabalhava nos roçados derriçando os grãos de
café no chão com as mãos ferindo com cortes e picadas mãos já calejadas da dura
vida...
Meu
pai é originário de um arraial chamado boa Vista onde viveu sua infância
lidando com os animais fazendo o duro trabalho de peão e candeeiro, levantando
ainda de madrugada para a primeira ordenha das vacas... Minha mãe originaria de
um arraial de negros um antigo quilombo, uma terra Quilombola que ficava em um
lugar escondido e de difícil acesso chamado Bocaina de Botafogo onde lidava com
a dureza do campo... Os dois lugares fica hoje próximo a uma cidade mineira
chamado Tabuleiro, cujo cemitério abriga os restos mortais de minha irmã de
criação Gení que amava muito e foi um grande sofrimento ao saber de sua morte
prematura aos 23 anos de idade...
No
dia do meu nascimento em uma época que era difícil sobrevivência infantil, ao
nascer meu primeiro presente foi um pequeno colchão de palha de milho de origem
caseira onde minha mãe confeccionou com barbantes e panos de saco de linhagem
de fibras de juta que eram usados para armazenar os grãos do milho... Como não
tinha cama colocaram dois cavaletes de madeiras rusticas e em cima do rustico
artefato colocou uma meia porta velha de madeira pequena onde abrigou meu
pequeno e saudoso colchão de palha de milho.
Neste
berço de cavalete e uma meia porta velha simples e humilde desenvolveram meus
primeiros sonhos de uma vida melhor, tenho o costume dizer o que a vida me deu
hoje é muito mais do que recebi ao nascer; um pequeno e rustico colchão de
palha. Portanto: seja fiel no pouco e sobre muito Deus te colocara Mateus
25:21...
A
ordenha significa tirar o leite, ou seja, é o lucro da atividade leiteira. Esse
ato deve ser feito sem paradas, com os tetos limpos e secos em um ambiente
asseado, tranquilo, sem umidade e longe de outros animais. A colheita do café,
que eram os principais produtos brasileiro de exportação geralmente depois dos
escravos era colhidos pelas crianças e mais idosos, um processo doloroso e
hostil para as mãos.
Os
colchões de palha de milho eram os mais modestos. Qualquer casa tinha sua
plantação de milho. Comidos os grãos usava-se a palha e geralmente era trocadas
as palhas periodicamente. Ao se mexer as palhas faziam um barulho inconfundível
nos riçados dos artefatos. Cem anos após a abolição formal e inconclusa da
escravidão, os quilombolas finalmente conquistaram o direito à terra na
Constituição Federal de 1988. Enquanto, dados da Fundação Cultural Palmares
indicam oficialmente a existência de 2.648 quilombos no Brasil algumas não são
oficiais deixaram de ser dos negros abrigando os brancos misturados...
A
ARTE DO ENVELHECER:
Velho
amigo não se entristeça, por que entristecer? Não se preocupe se alguém te
chama de velho, para que se preocupar. Não se sinta humilhado por ser deixado
de lado, para que se humilhar? Envelhecer é uma arte, a arte de viver bem. Sem
importa-se com o tempo, com o cansaço da vida. Se alguém te chamar de velho.
Faça como o poeta sai cantando...
Agradeça
os anos de sabedoria. As rugas que escrevem em seu rosto, as marcas de lutas e
vitória. Marcas o que são marcas? São só escritas de uma vida, marcas dos
choros e sorrisos. O cansaço, as pernas lentas, o olhar obscurecido. As dores
pelo corpo, a visão perdidas pelos anos. O que são? São apenas amostras dos
sentimentos, nas saudades, dos ressentimentos, do abandono...
Lembre-se
cada dia que passa na sua velhice, você esta mais perto de Deus que te aguarda
no longo abraço. Cada ano mais se aproxima tua eternidade, preparada antes da
fundação do mundo... Pois agora como a lira rouca de um soneto de batráquios
nos sons das taquaras sendo rachadas e divididas ouço minha voz embargada e embaçada
pelo tempo... Contei o tempo que foram se multiplicando aos dias formando os
anos de minha sobrevivência e existência em momentos inconstantes do meu viver.
A
velhice é como um tronco ressequido onde um dia abrigou flores, folhas e
frutos, hoje são encostados nos cantos da vida, mas que logo renovarão seus
cachos em um lugar onde os tempos e idades cessam e não serão mais contados
como nossos inimigos.
LEMBRANÇAS
DO MATUTINHO FELIZ:
(CRÔNICA
SAUDOSA DOS CARROS DE BOI)
Quem
viu, viu quem viu de forma nenhuma vai ver uai o carro de boi chiador. Com suas
formas rústicas da roça seguindo pelo estradão. O boi atrelado nos esteios
maciços de madeira hostil. O carro de boi lá vai, com seus bois de carreira,
também chamado boi de cabeçalho puxando com sua força o carro pesado com suas
rodas gemendo pela estrada poeirenta do roçado.
Ladeira
que vem ladeira que vai carreiro gritando gerando uma harmonia de som e gritos
e gemidos do rodão de Cabreúva que é a parte do centro também chamada meião e
lateralmente se limita com as duas cambotas, originando o apelido das pernas
arqueadas dos colonos abestados. O meião, perto das cambotas, tem sempre dois
buracos, o bocão, ou oca, que é para o som criar força e ecoar.
Com
seus cânticos singelos e saudosos com o carreiro empunhando o varão que com
seus estalos apressa o boi velho cansado que disputa suas forças com o novilho
novo e metido em suas pernas da juventude animal. O boi novo vai o boi velho
segura o trote arrastado e nesta disputa de idades mantém a sequencia do
carreirão. O chumaço que era feito de canelão mantém a harmonia das cantigas da
roça sem distinção.
Sem
muitas rimas do contado levo no meu coração as lembranças da minha mente do
matuto cansado que não viu o tempo passar nas mudanças dos anos que apagam nas
sutilezas dos matrizes. Os carros que cantam sem cargas apenas um melodia
ouvida e de boas lembranças pedem o óleo de copaíba que servem também para
curar com seu teor medicinal cicatrizante por sua ação. O balsamo de copaíba
que cessa o grito do carrão e apaga o grito de dor das feridas das cangas e
mazelas do matutão.
Sou
mineiro de nascença e roceiro de coração homem simples da cidade arrancado de
sua sina mateira, lembrando-se do que não viveu apenas favas contadas perto das
fogueiras da fazenda do Taperão. Olhos lagrimejados da saudade do pai
sanfoneiro por sua cultura no doce som dos acordeons que ouvia, quem ouviu,
ouviu, mas quem não ouviu não houve mais os acordes do meu velho progenitor e
protetor.
Para
terminar esta crônica faceira que dá saudade no capiau, Existe no carro de boi
a vara de ferrão, de carrapateiro, na frente leva ponteiro de ferro na ponta do
ferrão que, antes de ponta dava origem ao espeto das abelhas, com seu furo com
duas argolas de ferro, que chacoalham e, assim, o boi já sabe que lá vem
cutucão e desamua no efeito do amuar, ou arranca mais o seu trote marrento.
Carreiro bom não espeta boi de tirar sangue. Só ponteia, nas lágrimas perdidas
no poeirão despede o mineiro caladão com saudade do matão.
VIDA
NA CIDADE CORAÇÃO NO MATO DE UM MATUTO SONHADOR:
Eu
sou um caipira, um matuto nascido na cidade, sou um caboclo quieto que tem no
coração as maravilhas do sertão. Eu jamais vou negar minha raiz, pois sou filho
de uma colhedora de café nascida em botafogo arraial distante próximo a
tabuleiro lugar de colonos e escravos fugidos, minha mãe tinha as mãos
calejadas de olhos negros tristes na verdade muito triste mulher de cara
amarrada seria e sisuda por natureza, trabalhadora que lavava roupa na tina com
sabão esfregado naquelas mãos pequenas e firmes, estendendo a roupa no varal
que dizia que era para guarár.
Meu
pai um homem trabalhador que candeava bois pelos caminhos duros de minas
gerais, homem bom quieto de pouca fala que gostava da sua velha e surrada
sanfona que tocava as musicas sertanejas de raiz sempre com os olhos marejados
pela saudade do matão e dos tempos no estradão. Meu pai tinha um chapéu e sua
botina como companheiros que o acompanhava por aonde ele ia.
Tenho
a pele morena talvez seja isso a natureza do meu nome queimada de sol e a
essência entranhada de um matuto deslocado, com a cútis marcada pela vida
escrevendo no rosto enrugado minha historia, tenho a cor da natureza pintada
por Deus nosso criador. Não sou de gravata e nem de bravata apenas um simples,
arrancado de seu habitat natural e colocado na frieza da cidade de gente
soberba e nariz empinado que desprezavam o homem do mato de pés descalço e fala
arrastada por sua beleza com som de taquara rachada em tom de batráquios do
brejo.
Minha
família vem das lutas matutinas dos voos de pardais, dos cantos dos canários
nos trigais e milharais, dos coleiros papando seu capim cantando enrolado no
tui tui, é isto que me faz feliz lembrar daquilo que não vivi apenas ouvindo
historias de tempos remotos e distantes da roça do meu país.
Não
morávamos em uma casa e sim num rancho de taipa com seus buracos que eram
moradas das garrinchas bicho esquisito de poucos pios em seus giros rodopiando
como os piões soltos pelas cordas, se me perguntarem o que me fazia feliz diria
que era o cheiro do mato, o despertar do canto do galo despertador natural sem
corda e nem bateria basta colocar o milho e o bicho canta feliz, tenho saudade
das aguas de cachoeira frias e perigosas seguindo caudalosas e perigosas
escondendo em suas corredeiras locas sinistras.
La
no mato tudo a noite é silencioso apenas o bater das arvores movidos pelos ventos
de outono anunciando tempo de chuvas e temporais, neste momento surgem as
estrelas no céu sendo mostrada pelo breu que se estende como um véu, os
vagalumes começam a piscar coisa não avistada mais na luz forte da selva de
pedra.
Vejo
o lumiar da lua dos românticos inebriados pelo seu brilho feliz, sou um caboclo
rude tirado do mato e hoje guiado pelas luzes do criador que aponta nas
lâmpadas de meus pés que caminho devo seguir caminho para o grande rincão no
paraíso eterno guardado para o matuto sonhador cheio de saudade do grotão e
roçado do interior.
A
VELHA SANFONA DE OITO BAIXAS:
Esta
vendo aquele homem? Com um olhar triste fixado no horizonte com os lombos
encurvados pelo cansaço da vida e lida, andar lento com passos arrastados de
quem já sofreu e trabalhou incessantemente pelo pão de cada dia. Uma voz de
taquara rachada, embaçada e rouca que tanto me ensinou o caminho certo a
seguir, tantas historias contadas aos longos dos anos onde eu deitava em seu
colo com um olhar feliz e deslumbrado com suas estórias de reis e príncipes...
Agora
ele pega a velha sanfona e toca divinamente naquele pequeno e surrado
instrumento a velha sanfona de oito baixas que expressa às tristezas e
amarguras do velho Jeca. Sua musica preferida chamava-se saudade do matão e o
som com harmonia e graça enchia todo o nosso quarto, meu olhar de orgulho e
admiração mirava naquela face cheia de rugas que escrevia em seu rosto uma vida
de lutas e sofrimentos, agora o velho sanfoneiro com seus olhos rasos d’água
tocava nas teclas pequenas do instrumento para contar suas magoas e saudades...
Aquele
homem valoroso de mãos calejadas pelo duro trabalho da lida pegava nas horas de
folga os velhos guardas chuvas dos vizinhos para consertar e reformar
costurando seus panos (tecidos) com aquela calma que lhe era peculiar, trocava
as varetas, reformava os cabos, trocava os gatilhos e as ponteiras (quando
estouravam). De repente não mais que de repente ajeitava o seu velho chapéu de
couro dos tempos que candeava boi pelas estradas empoeiradas da roça, meu pai
saia para o velho carteado com os amigos...
Sentado
ao entardecer ao lado do portão de madeiras a sombra da grande trepadeira com
seu sombreado, rosto ansioso os olhos de criança voltados para a entrada da rua
chamada do meio da fazenda Tapera Alta. De repente ao entardecer surgia aquele
homem cansado de mais um dia de labuta carregando seus baldes cheirando a
leite. Neste momento aquela criança corria com suas pernas pequenas ao encontro
daqueles braços entre sorrisos e abraços de alegria estendia a pequenina mão e
na mesma hora recebia uma pequena moeda trocada por doces e balas. O velho
homem estava de volta ao lar...
À
noite aquele velho homem ligava seu rádio antigo que logo soava o seus sons de
violas e cânticos sertanejos embalando a harmonia da família o velho lampião de
querosene era aceso com seu peculiar isqueiro de pedra e o lampião soltava sua
fumaça preta enchendo o cômodo de chão batido com aquele cheiro de óleo. O
silencio enchia a casa começava a radionovela que todos amavam e ao som das
ondas sonoras do velho radio contava a estória do Jerônimo o herói do sertão
que contava as lutas contra o crime do valente sertanejo e seu amigo o fiel
Saci. Quando terminava o dia a luz do velho lampião era soprada e a escuridão
tomava conta do velho casebre de pau a pique...
Esta
vendo aquele velho homem sanfoneiro com sua velha sanfona de oito baixas na
mão? Este homem é meu pai...
UM
DIA DE CHUVA:
Um
belo dia de chuva com suas águas caindo molhando as flores renovando a força da
natureza que agora se alegra com os pingos de vida que caem do céu. Águas
límpidas e puras que caem de Deus que não voltarão a tornam-se nuvens sem antes
cumprir sua missão, mais uma vez a natureza rejuvenesce suas cores com seu verde
cheio de esperança e amor...
Neste
momento abro minha janela lembrei-me das minhas primeiras chuvas com seu cheiro
petricor (nome do cheiro das águas molhando a terra), em um tom de saudade,
pois um dia contemplava as águas caindo e perguntei por que elas caem? Neste
momento numa lembrança de tua voz de batráquio lembrei-me de sua resposta.
Embora muitos não gostassem da chuva elas são fundamentais para a terra, ajudam
no desenvolvimento de diversas formas de vida...
Aprendi
que a chuva é um fenômeno da natureza agindo da seguinte forma; a água aquecida
pelo sol se torna em vapor que se misturam com o ar e sobem, tornando-se nuvens
carregadas de vapor, ao atingir altitudes elevadas ou encontrar massas de ar
frias, o vapor de água condensa, transformando-se novamente em água; Como é
pesada e não consegue sustentar-se no ar, a água acaba caindo em forma de
chuva...
Portanto
o grande milagre da natureza aponta para um criador que renova a terra com suas
águas em um sistema natural comandado por suas ordens. Um Deus que também renova nossas vidas com
uma chuva de bênçãos operando um milagre de renascimento cumprindo suas
promessas de renovos para nossas vidas com suas águas transformadora e
carregada de esperança e amor celestial...
OSVALDINHO
O MENINO CANDEEIRO DO ROÇADO:
O
sol surge no horizonte com seu brilho ainda tímido naquela invernada, o pequeno
Osvaldinho acorda sonolento assopra o fogo do velho lampião cuja fumaça preta
de querosene deixava marcas pretas em seu rosto juvenil de menino prosa e
faceiro com seus doze anos, agora ele levanta para suas tarefas e a difícil
labuta da família Souza, gente simples e humilde que vivia naquele rincão do pequeno
arraial de Boa Vista...
O
pequeno retireiro inicia seu duro serviço ajunta as vaquinhas amarra as pernas
para não levar um coice da vaca malhada cujas tetas cheias são preparadas para
a primeira ordenha do dia, naquela fria manhã com seus ventos cortantes o
menino Osvaldinho grita; sossega malhada, pois preciso tirar seu leite...
As
seis grandes leiteiras com seus vinte litros são colocadas por aquele menino
Osvaldinho, catraio magrinho de braços fortes suspende os vasos de leite sobre
as soleiras de madeira do carro de boi atrelado com o Mimoso do lado direito e
o outro boi de chifre comprido com nome de vaca o Estrela do lado direito.
Naquela
manhã do roçado sai o carro de boi cujas rodas grandes e pesadas com suas
vassouras o pequeno arbusto que servia de um lubrificante cuja seiva no atrito
liberava um óleo natural exprimido entre os eixos...
Na
cálida e silenciosa manhã o barulho da carroça acorda os colonos e caipiras com
seu barulho e rangido como se fosse um grito do pequeno menino caminhando entre
os roçados. O candeeiro pequeno e frágil grita vamos Mimoso, sossega Estrela,
os pássaros começam sua alvorada com seus cantos trilhados começando o dia dos
bandos em suas revoadas...
O
caipira caminha pelas estradas empoeiradas de terra vermelha do sertão. Com
seus pés descalços e cascorentos José Osvaldo de Souza nome dado pelo seu velho
pai. O menino agora atinge seu alvo chega ao seu destino o armazém do Seu
Maurílio; que nome demais de bonito e diferente soo, pensa o pequeno bacuri...
A
vida em sua roda continua sem barulho diferente daquele carro de boi do pequeno
Osvaldinho leva o menino quarenta anos depois para uma casa de pau a bique e
chão batido de um remoto lugar chamado Fazenda Tapera Alta. Osvaldo homem feito
diferente daquele pequeno caipira candeeiro das juntas de bois Mimoso e
Estrela.
Escuta
o choro do seu décimo segundo filho um choro alto e trilhante que quebra o
silencio daquela noite quase natalina o senhor Osvaldo pega a pequena criança
em seus braços e agora viaja em suas lembranças do velho armazém e grita com
satisfação seu nome será chamado Maurílio que nome mais bonito soo...
Fala
em um grito miúdo a velha parteira que sem estudo nenhum colocou no mundo
muitas crianças. E ali naqueles braços paterno o menino deixa de chorar agora
seguro naqueles braços de amor é colocado em seu berço improvisado de colchão
de pano de saco alvejado e palha lugar de muitos grandes sonhos...O guri cujo
nome foi registrado uma semana depois se chamava Maurílio Oswaldo de Souza; que
nome mais bonito soo. Viveu sem ser famoso, mas com um coração orgulhoso do seu
velho pai o menino candeeiro do roçado Osvaldinho...
CORAÇÃO
NO MATO DE UM MATUTO SONHADOR:
Eu
sou um caipira, um matuto nascido na cidade, sou um caboclo quieto que tem no
coração as maravilhas do sertão. Eu jamais vou negar minha raiz, pois sou filho
de uma colhedora de café nascida em botafogo arraial distante, mas próximo a
tabuleiro lugar de colonos e escravos fugidos. Minha mãe tinha as mãos
calejadas de olhos negros tristes na verdade muito triste mulher de cara
amarrada seria e sisuda por natureza, trabalhadora que lavava roupa na tina com
sabão esfregando naquelas mãos pequenas e firmes, estendendo a roupa no varal
que dizia que era para guará.
Meu
pai um homem trabalhador que candeava bois pelos caminhos duros de minas
gerais, homem bom quieto de pouca fala que gostava da sua velha e surrada
sanfona que tocava as musicas sertanejas de raiz sempre com os olhos marejados
pela saudade do matão e dos tempos no estradão. Meu pai tinha um chapéu e sua
botina como companheiros que o acompanhava por aonde ele ia... Tenho a pele
morena talvez seja isso a natureza do meu nome queimada de sol e a essência
entranhada de um matuto deslocado, com a cútis marcada pela vida escrevendo no
rosto enrugado minha historia, tenho a cor da natureza pintada por Deus nosso
criador.
Não
sou de gravata e nem de bravata apenas um simples, arrancado de seu habitat
natural e colocado na frieza da cidade de gente soberba e nariz empinado que
desprezam o homem do mato de pés descalço e fala arrastada por sua beleza com
som de taquara rachada em tom de batráquios do brejo... Minha família vem das lutas
matutinas dos voos de pardais, dos cantos dos canários nos trigais e milharais,
dos coleiros papando seu capim cantando enrolado no tui tui, é isto que me faz
feliz lembrar daquilo que não vivi apenas ouvindo historias de tempos remotos e
distantes da roça do meu país.
Não
morávamos em uma casa e sim num rancho de taipa com seus buracos que eram
moradas das garrinchas bicho esquisito de poucos pios em seus giros rodopiando
como os piões soltos pelos cordéis. Se me perguntarem o que me fazia feliz
diria que era o cheiro do mato, o despertar do canto do galo despertador
natural sem corda e nem bateria basta colocar o milho e o bicho canta feliz. Tenho
saudade das aguas de cachoeira frias e perigosas seguindo caudalosas e perigos
escondidos em suas corredeiras e locas sinistras...
La
no mato tudo a noite é silencioso apenas o bater das arvores movidas pelos
ventos de outono anunciando tempo de chuvas e temporais, neste momento surgem às
estrelas no céu sendo mostrada pelo breu que se estende como um véu, os
vagalumes começam a piscar coisa não avistada nas luzes fortes da selva de
pedra da cidade. Vejo o lumiar da lua dos românticos inebriados pelo seu brilho
feliz, sou um caboclo rude tirado do mato e hoje guiado pelas luzes do criador
que aponta nas lâmpadas de meus pés que caminho devo seguir.
Caminho
para o grande rincão no paraíso eterno guardado para o matuto sonhador cheio de
saudade do grotão e roçado do interior...
IGREJA
PEQUENA DO MATUTO SONHADOR:
A
igreja no pé da serra aonde ia o irmão chorão, era chamado assim, pois orava e
chorava aos pés do Senhor Jesus Cristo. Quanto tempo se passou a saudade que
ficou dos hinos que cantava da harpa cristã surrada do pastor matuto que falava
nóis vai e nóis fica, pastor simples de chinelo de dedo nos pés e a palavra no
coração. Agora na cidade o irmão chorão lembra com saudade da igreja do
Boqueirão no pé da serra. Lembra com saudade e seu coração chora quando vai
chegando à noite onde não via a hora chegar para ir para a pequena igrejinha
adorar ao Deus dos símplices e humildes.
E
quando chegava ele olhava para o altar e as lágrimas já começavam a rolar no
momento sublime e feliz do matuto sonhador. Lembra da cruz, lembra do amor e
gritava feliz obrigado meu Senhor. O matuto agora em suas lembranças vê seu
pastor humilde cabisbaixo meditando na pregação preparada no coração de Deus
que recebeu como revelação com sua enxada na mão. A igreja calada olhando para
seu pastor com os olhos de sofredor semeando chorando aguardando seus feixes
com amor. A primeira igrejinha, o primeiro amor do irmão chorão sonhador.
Mãos
calejadas que carregava sua bíblia surrada, aguardando as ruas de ouro no
paraíso celestial onde todos serão príncipes e doutores no seu lar celestial do
seu Senhor. Adeus vida sofrida do cabo do cambangu (enxada), adeus chinelo de
dedo, adeus roçado de suor, agora vive feliz o matuto no seu eterno penhor recebido
do seu Deus de amor... QUANDO VOCÊ PENSA EM IGREJA O QUE VEM EM SUA MENTE: A
IMPONÊNCIA DOS TEMPLOS FARAÔNICOS? OU NA SIMPLICIDADE E HUMILDADE DE UM POVO?
IGREJA NÃO SÃO TEMPLOS E SIM PESSOAS!!!
ONDE
NASCI CRÔNICA SERTANEJA:
Nasci
em uma casa de pau a pique taquarada e betumada com barro de argila. Nasci em
uma casa de chão batido com portas cortinadas. Nasci em uma casa alumiada de
lampião de querosene. Nasci em uma casa de poço de agua no fundo do quintal com
corda e carretilha atrelada em um balde, onde banho era em bacia e no final de
semana com chuveiradas de regador. Nasci em uma casa de fogão de lenha com seus
cavacos e lenhas abrasadas cozinhava o feijão, onde a broa de fubá era assada
no lume e com brasas em sua tampa. A chaminé com sua fumaça quente saiam por
uma manilhada.
Nasci
em uma casa onde quintal era o habitat natural da bicharada que viviam
harmonizados; galos e galinhas, cachorros e gatos, porcos e cabritos, marrecos
e patos. Nasci em quintal com arvoredos frutíferos; Mangueiras, abacateiros e
goiabeiras faziam os ornamentos da natureza e alegria das criançadas. Nasci em
uma casa de rádio emparedado na altura de meu pai, com vitrolas com suas
musicas românticas que faziam as trilhas sonoras de nosso lar; Cauby Peixoto,
Orlando Silva, Marlene, Emilinha Borba e Ângela Maria chamados os cantores reis
e rainhas das ondas sonoras radiofônicas.
Nasci
em uma tapera com bancos duros de madeiras de lei, com as divisas sem cercas e
muros sem fronteiras das vizinhadas com uns cuidando dos outros compartilhando
alegrias e tristezas. Nasci na simplicidade de uma casa, na humildade de seus
moradores na construção de um lar em pleno amor habitado nos corações de seus
moradores, ouvidos nos trilhados dos pássaros e refletidos nos olhos marejados
cheios de recordações e saudades de seus matutos sertanejados!!!
Deus
te abençoe!!! Maurílio Oswaldo...
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