O velho
Chico começa sua historia às vezes meio triste outras vezes esboçava um leve
sorriso naquela boca desdentada e com muitos dentes apodrecidos pelos maus
tratos e de mastigar o fumo de rolo; ele conta sua longa historia: O moço
Chico jovem escravo fortalecido pela dureza das batalhas do dia a dia, corpo
marcado pelos chicotes e amarras dos brancos com seu subjugo nas duras
correntes que cortavam os pulsos e calcanhares do pobre mulato que nasceu na
senzala e tirado de sua mãe quando tinha quatro anos.
Criado pelos duros
feitores homens maus e castigadores crescendo entre troncos, cafezais, chicotes
e canaviais, com cicatrizes que eram como tatuagens da ignorância dos senhores
de engenhos e dos cafezais...
Os avôs de Chico chegaram ao Brasil
depois de ficarem por muito tempo nos porões de navios de negros africanos
trazidos pelos comerciantes portugueses e vendidos para produção de açúcar
chegando homens e mulheres que foram caçados, aprisionados e depois escravizados
e judiados pelos homens brancos, agora eu pergunto quem vai pagar por tais
atrocidades???
Os escravos faziam os trabalhos
rudimentares com suas tarefas pesadas e cruéis. Entre senzalas e vendas e
leilões animalescos como se os brancos fossem donos do mundo, mas eram apenas
homens sem bondade, misericórdia e alma.
Homens orgulhosos, soberbos e
ignorantes que ignorava que os negros tinham e tem almas, sofrimentos e
sentimentos que eram homens e mulheres normais apenas diferenciadas por sua
cor, que eram tratados como animais das florestas com semelhança ao homem.
Um dia Chico já um homem forte depois
de viver mais de vinte anos subjugados nos troncos: Tronco era o nome dado ao
material de tortura e grande humilhação, era constituída de madeira dura como
os corações insensíveis dos senhores e feitores; que eram homens contratados
pelos senhores de fazenda cuja função principal era vigiar e castigar as duras
penas os escravos. O tronco era colocado estrategicamente nos lugares onde
podia ser visto por todos nas senzalas a titulo de exemplo...
Se fossemos medir a ignorância destes
homens chegaríamos à insensibilidade zero a desumanidade total. E hoje eu vejo
pessoas indignadas e com razão de Hitler e seus castigos hediondos, pessoas que
são descendentes insensíveis quanto ao trato de familiares cruéis dos seus
bisavôs; feitores e donos de cafezais e cana de açúcar que são seus
antepassados que deixaram na família um rastro de maldição quanto as suas
atrocidades, mancharam suas riquezas com sangue inocente.
Um dia o escravo Chico estava em mais
um dia de sua dura lida trabalhando nos cafezais de seu Manuelino um homem mal
de família portuguesa rico de bens e pobre dos bens, subjugado pelo capataz
Genésio homem mal contratado a peso de ouro, por causa de sua maldade nos
tratamentos dos escravos. Dia comum onde o sofrimento era algo do cotidiano.
Genésio sem dó pega com seu chicote e castiga o Bentinho escravo adolescente e
visto como rebelde presença assídua nos troncos com seu corpo já marcado...
Os jovens de hoje tem tatuagens neste
tempo de escuridão no Brasil pela dureza da cerviz dos cafeicultores os corpos
eram marcados pelos cortes dos chicotes malditos da era colonial ou podemos
chamar do período covarde dos senhores das fazendas com seus bigodes nojentos e
encardidos pelo fumo e pelas marafas. Bentinho não suportando a dureza das
chicotadas desmaia e seu corpo inerte cai completamente desfalecido. Neste
momento atroz o escravo Chico pensou; Mataram Bentinho!!!
Em um momento de fúria o moço Chico
escravo forte com seus músculos naturais construídos pela labuta do dia a dia
no roçado, pega a Genésio pela sua jugular e em um só golpe de seus braços
quebrando o pescoço do maldoso capataz. Agora não tem jeito mais; Chico moço
valente sai correndo embreando nas matas em uma corrida frenética pela vida.
Sem parar para descansar o escravo Chico chega a uma aldeia de índios chamados
Os Puris; Era um povo de origem Puri, grupo indígena possivelmente oriundo dos
Tupis-Guaranis, que juntamente com os brancos e os negros são responsáveis pela
formação do povo de Viçosense.
Ali o jovem escravo negro forte e
alto mistura de raça do homem branco dono de cafezais com sua mãe a moça
Francisca dado a origem de seu nome Francisco que também era seu sobre nome
Francisco de Francisca.
Aquela aldeia dos Puris era situada
em uma mata fechada onde formaram o grupo Puris do caiapó em um lugar perto da
aldeia embrenhadas pelas matas na bocaina de Botafogo que era um Quilombo para
onde o escravo Chico Itaúna (Pedra Preta); apelido e nome dado pelos índios do
povo indígena Puris. Já totalmente recuperado de sua luta pela liberdade e em
busca de uma vida de paz.
Observamos aqui; Dois povos duas
marcas um dos fugitivos; os escravos a outra expulsa de seus habitares naturais
tentam sobreviver de maneira pacifica e harmoniosa o povo de origem indígena e
o povo de origem escravos do Quilombo da Bocaina do Botafogo.
O Quilombo da bocaina do Botafogo foi
de origem da família composta por doze escravos fugitivos que deram origem
aqueles grupos de escravos fortalecidos cada dia mais pelos fugitivos que já
compunha em sua quantidade de mais de cento e trinta homens e mulheres mais
crianças que viviam da caça e das hortaliças e frutas campestres plantadas e
cultivadas em meio ao matagal com suas grandes arvores e plantas nativas,
aquele lugar era chamado de quilombolas. O município de Botafogo existe ate os
nossos dias vista como uma comunidade de origem Quilombeiras.
Quilombo é o nome dado no Brasil aos
locais de refúgio dos escravos fugidos de engenhos e fazendas durante o período
colonial e imperial. Nesses locais, os escravos passavam a viver em liberdade,
criando novas relações sociais com índios e nativos, os matutos e ermitões
grupo que eram chamados eremitas. Muitos quilombos existiram no Brasil e
centenas deles ainda existem, formando o que hoje é chamado também de
comunidades quilombolas.
Os quilombos no Brasil também eram
conhecidos como mocambos. Nos demais locais da América onde houve escravidão
também ocorreu a formação desses locais de refúgio e vida em liberdade. Os
quilombos eram locais de refúgio, mas também de resistência dos escravos contra
a escravidão. Neles, os escravos plantavam e realizavam coletas de produtos das
matas, como madeira e frutos, além de caçarem e criarem animais.
A população dos quilombos era formada
tanto por escravos e escravas quanto por indígenas e homens livres, mestiços ou
brancos pobres. Houve quilombos grandes e pequenos, alguns com milhares de
pessoas, outros com algumas centenas, sendo os pequenos os mais comuns. Nos
quilombos os fugidos constituíam famílias, criando uma nova forma de sociedade,
na maioria dos casos livre da escravidão.
Na chegada daquele novo escravo
Francisco o Itaúna ou pedra preta, negro forte corajoso e bom de briga e guerra
que sabia a arte de se esconder e que corria quilômetros sem se cansar. Chico
logo conheceu uma escrava branca de olhos azuis como o céu e cintilante quanto
o mar seu nome era Ignácia, pois era filha de fazendeiros que viviam de
plantação de café e mandioca na confecção de farinhas de mandioca em meio
aquela terra hostis com homens maus de um arraial chamado Tabuleiro.
Ignácia teve seu nome trocado por
Vitoria, Céu nos olhos por ser uma linda moça companheira e ajudadora de olhos
de um puro anil, em todas as tarefas era prestativa e logo o moço
Chico se apaixona por aquela escrava branca de olhos azuis da cor do céu que
deu origem ao seu apelido; Vitoria (por causa da lenda indígena da Vitoria
Regia).
Assim como em outros municípios da
Zona da Mata, a região onde se localiza o município de Tabuleiro teve como seus
primeiros habitantes índios das tribos Croatos e Cropós e também em suas matas
os Puris. Na segunda metade do século dezessete.
Por volta de 1767, o Padre
José Manoel de Jesus Maria inicia o processo de catequese dos índios na então
freguesia do Mártir São Manoel dos Rios Pomba e Peixe dos Índios Croatos e
Cropós, sendo que 74 anos depois, pela lei provincial de 7 de abril de 1841,
foi criado o curato do Senhor Bom Jesus da Cana Verde no local onde hoje
funciona a própria sede da prefeitura municipal de Tabuleiro.
Tudo indica que a origem do nome de
Tabuleiro remete ao modo como viajantes tropeiros e mascates denominavam a
região, pois, quando por ali passavam, eram recebidos pelos moradores vendendo
doces, pães, bolos e alimentos diversos em tabuleiros de madeira que eram
colocados nas janelas das casas. Naquele lugar moravam os pais de Inácia até
que foram ameaçados e perseguidos por duros cafeicultores em busca de terras
para seus plantios e suas ocupações que eram feitas de mortes e violência.
As casas dos colonos eram queimadas e
expulsos de suas propriedades e a partir dai se tornavam escravos dos grandes
senhores de engenho e cafeicultores com sua força política e corrupta chegavam
com seus matadores de alugueis tomando de maneira covarde e cruel suas
propriedades subjugando os que ficavam vivos que eram tratados como escravos
brancos.
Ali no subjugo dos chicotes cresceu a
linda escrava branca Inácia com seus olhos de cor azul da cor do mar. Um belo
dia ainda adolescente Inácia trabalhava na dura colheita de café. Linda era
perseguida pelos patrões e seus filhos por sua beleza, foi atacada em meio ao
estradão um caminho escuro cercado por uns matagais e animais. Inácia foi
atacada por cinco dos homens do seu Senhor e nesta luta Inácia foi feroz como
uma onça, mas em seu corpo jovem e frágil foi subjugada; pelos malfeitores
homens maus e perseguidores.
Ali perto quatro dos índios Puris
estavam caçando com suas flechas envenenadas por ervas cujo veneno adormecia os
animais que eram levados para servirem de alimentos e seus ossos de adereços e
pontas de lança armas usadas na caça e na proteção contra homens perseguidores
e covardes em busca de terras para plantio.
A guerra e as lutas eram constantes
entre os senhores dos vilarejos com os índios que viviam de maneira pacifica e
ordeira em meio das matas da Bocaina de Botafogo. Foram cinco flechadas
certeiras e aqueles animais vestidos de gente, pois assim eram chamados os
capatazes, feitores e matadores de alugueis por serem maus por suas atitudes e
origem eram piores dos que os animais. Salvo dos seus algozes a adolescente
Inácia foi protegida pelos Índios Puris. O chefe daquele grupo de caça foi o
moço índio Caipora hábil caçador que não se condoía de matar animais cortando
com sua faca feita de ossos os pescoços.
Ali estavam agora indefesos os homens
capatazes hediondos completamente adormecidos pelo veneno das pontas das
flechas, Caipora dá uma ordem e matam como o carcará ave de rapina
sem dó nem pena e cortando suas jugulares jogam no rio para serem levados para
longe de suas aldeias. E assim foi feito. Conduziram aquela moça branca e
escrava que perdeu seus direitos de liberdade pela maldade dos brancos. É
levada em proteção para a aldeia próxima ao Quilombo de Bocaina do Botafogo.
Na crença daqueles índios os homens
que morriam que não pertencia a tribo deveriam ser jogados nos rios assim
fazendo trariam para os índios abundancia de peixes. Isto era orientado pelo
Pajé: O pajé era uma figura de extrema importância dentro das tribos indígenas
do Brasil. Detentor de muitos conhecimentos e da história da tribo, ele é o
indígena mais experiente. Eram os Pajés responsáveis por passar adiante a
cultura, história e tradições da tribo.
O pajé também possui a função de
curandeiro dentro da tribo, pois conhecia diversos rituais e também o poder da
cura com ervas e plantas. O pajé também possui a função de líder espiritual da
tribo. Ele conhece os meios de entrar em contato com os espíritos e deuses
protetores da tribo.
Continuando a historia da escrava
branca salva pelos índios que passou a ser chamada de Vitoria, por causa da
lenda da Vitoria Régia, pois ela era branca como a flor da planta aquática que
tinha os azuis cintilantes em suas pétalas como o azul dos olhos da moça. Como
ela insistia em ser chamada por Ignácia; Passou a ser chamada de Vitoria Ignácia.
Ali entre os índios Puris aquela
escrava branca agora tratada com carinho e cuidada pelas índias mais velhas,
pois era assim naquela comunidade indígena as mais experientes cuidavam como
mães das mais novas. Ignácia agora escondida e guardada pelos índios Puris
passa a viver entre sua nova família a família dos selvagens e fortes contra os
inimigos e homens maus, mais benevolentes e protetores dos homens bons os índio
Puris da Bocaina.
Seu nome Ignácia é trocado por açucena agora batizada pelo
Pajé da tribo: Que quer dizer branca e singela, a escrava branca e adolescente
vive agora livre em meio a sua nova família a Vitoria Ignácia ou Açucena.
Assim como na chegada de Chico Itaúna
o pedra preta cercada de curiosidades das índias solteiras. Vitoria Ignácia a
Açucena foi cercada pelos índios jovens e solteiros que nunca viu uma moça tão
branca e doce como aquela. O escravo Chico Itaúna negro por natureza fugitivo
que vivia ainda com os índios Puris saiu à caça e ensinava aos índios a arte da
caça das tribos africanas arte aprendida com seu avô que tinha sido cacique de
sua tribo de origem dos Zulus.
Todos os ensinamentos de caça dos
Zulus foram passados para Chico Itaúna que agora passa os costumes milenários
das tribos da África antiga. O avô do escravo descendente dos reis Zulus com
seu olhar altivo de cacique, embora sendo escravo judiado não perdeu sua
dignidade dos chefes das tribos. Com sua voz forte de trovão ensinava os
costumes da tribo os Zulus para Chico Itaúna.
Chico Itaúna o homem de pedra como
era chamado saia para a caça e trazia suas caças para a tribo Puris, e sempre
quando chegava à aldeia da Bocaina de Botafogo, tinha festa e o que não faltava
no fogo das fogueiras improvisadas eram as carnes dos animais. Quando Chico
Itaúna chegou jovem negro e bonito, forte e valente foi recebido com festa e
logo apresentado para a escrava branca de olhos azuis e singela, muito bela com
seus cabelos claros agora soltos sem os lenços protetores e o grande chapéu de
palha que sombreava seu rosto.
O homem de pedra Itaúna abre um
sorriso com seus dentes brancos cuidado com ervas e ossos de animais, pois era
assim que cuidavam dos dentes e hálitos com plantas dos ensinamentos dos
ancestrais: Sem tecnologia, itens tirados da natureza faziam sucesso na busca
pelo sorriso perfeito. Antigamente o homem já fazia bochechos com uma mistura
de hortelã e água para deixar o hálito mais agradável, portanto naquela tribo o
cultivo da hortelã era fundamental para manter o hálito saudável. Alguns
povos
Usavam galhos, folhas de árvores e
penas para essa função. Outros, pequenas lascas de madeiras entendidas como
palitos e há até os que usavam as próprias mãos para fazer a higienização bucal
com plantas que criavam em suas resinas espumas amargas mais eficazes na
limpeza bucal. Ao ver aquele sorriso bonito e simpático daquele grande e forte
ébano, pois Chico Itaúna destaca-se por sua altura com quase dois metro de
altura e seus ombros largos e fortes que parecia ter muito mais de dois metros
em sua altura.
Vitoria Ignácia; a Açucena nome dado
pelo Pajé por sua pele branca e singela ficou encantada e seu pequeno coração
de moça nova nunca tinha batido tão forte, parecia que ia saltar de seus lábios
ou boca rosa por natureza. Não podia negar; alguma coisa aconteceu com ela a
partir daquele momento sentiu que estava diante do homem de sua vida, e olha
que aquilo não era algo comum como nos dias hoje.
Quando as
jovens se apaixonavam era única sua paixão. Itaúna agora suado pelas caçadas e
cansado da longa caminhada carregando junto com o pequeno grupo de caçadores as
carnes das caçadas, pede licença para a moça bonita de olhos tão azuis que
nunca fora visto por ele.
O índio Barnabé Crescêncio o Coto
amigo agora mais que irmão do Itaúna o homem de pedra; como gostava de ser
chamado, índio que cresceu nas fazendas dos brancos, mas quando adolescente foi
resgatado de seu cativeiro pelos Guerreiros Puris que eram homens treinados e
guerreiros que resgatavam os índios Tupis e Guaranis dos jugos dos brancos em
busca de servidão. Chamada como a bandeira de caça aos índios no Brasil do
século dezessete.
Os índios destes aldeamentos já
estavam acostumados com o trabalho agrícola, em função dos ensinamentos dados
pelos jesuítas. Estes indígenas trabalhavam no plantio e colheita destes
aldeamentos. Como conheciam o trabalho, era uma mão-de-obra que os bandeirantes
conseguiam obter maior valor de venda. A maior parte dos indígenas
capturados por estas bandeiras foram vendidos para fazendeiros de São Paulo.
Mas a Capitania do Rio de Janeiro e
os senhores de engenho do Nordeste também compraram esta mão-de-obra, embora em
menor quantidade. E foi em uma destas caçadas que o menino Barnabé Crescêncio
foi levado para a venda como um escravo branco.
Comprado junto com alguns índios que
foram amarrados e trazidos para a escravidão em Minas Gerais comprado na grande
feira de São Paulo que não tinha hortigranjeiros, mas sim homem e mulheres em
comum acordo com os Jesuítas que treinavam para valorização dos preços por
causa do conhecimento nos cultivos do roçado. Os Bandeirantes que eram os
mercadores desta mercadoria útil para os senhores dos cafés e engenhos de
açúcar.
Amarrados a uma carroça e cercados
por quatro capangas que na verdade eram matadores profissionais. Com aqueles
quatro não tinha perdão a tentativa e a força para escapar era punida com
agressões e torturas. Barnabé Crescêncio menino novo ágil e bom por sua
natureza foi tirado de sua família pelos Jesuítas e agora vendido para as
terras mineiras como escravo dos cafezais pelos Bandeirantes.
Neste tempo havia surgido a lenda do
cavalheiro fantasma que diziam entre os índios e escravos que era a alma de uma
mistura do índio branco com um escravo negro que voltava dos mortos para
assombrarem os cafezais e seus senhores e saiam nas caladas das noites de lua
cheia em busca de vingança e sangue dos brancos.
O cavalheiro fantasma que surgia em
seu cavalo preto chamado Ébano cujos olhos eram chamados de chamas de fogo,
montado no cavalo Ébano saia o vingador assombrado cuja finalidade era a caça e
morte dos senhores e capatazes assim como a libertação dos índios escravos
brancos e os negros. A meia noite saia o bando do
cavalheiro fantasma em busca de sangue com sua tropa de encapuzados chamados de
bando das trevas, pois vestiam com roupas toda de preto e ninguém sabia sua
origem.
Este grupo aterrorizavam os Senhores
e nas noites de lua cheia o bando colocava terror com suas armas em formas de
tridentes com flechas venenosas em suas pontas caçando feitores de escravos e a
soltura dos escravos que eram libertados e suas senzalas queimadas...
Como lutar com aqueles agentes das
trevas os vingadores do cavalheiro fantasma. O medo e terror invadiam as noites
e todos ouviam o tropel do cavalheiro e seu bando. Feita de chifre dos
carneiros se ouvia ao longe antes dos ataques e queimadas com as solturas dos
escravos que sumiam cobertos pela negridão da noite.
Ouvia o som parecido com um berrante
ou shofar dos Hebreus, alguns diziam que era o som do inferno para os senhores
dos cafezais, mas para os escravos era o som do céu e de sua liberdade...
Os
escravos capturados eram levados para um lugar chamado à floresta dos malditos,
pois todos que entravam naquelas matas fechadas nunca mais saiam para contar a
historia daquele lugar que nem índios nem escravos ou homens brancos por mais
coragem que tinham entravam adentro daquele lugar sinistro e funesto. Na sua
entrada havia esqueletos de feitores e capangas. A lenda entre os índios era
que naquela mata morava o cavalheiro fantasma com seus cavalheiros das trevas.
Barnabé Crescêncio agora estava preso
amarrado a carroça com sede e com fome fragilizado pelo cansaço da dura e
comprida viagem. Todos os dez escravos comprados a peso de ouro estavam fracos
por causa da inanição careciam de alimentos para se fortalecerem. Neste momento
a escuridão começa a alcançar aquela tropa constituída dos dez escravos
indígenas, o carroceiro apelidado de Bagaça, pois gostava de se embriagar com a
cachaça guardada em sua cuia de cuité.
Neste momento se ouve a ordem de
parada iam acampar a beira do rio próximo a hoje Coronel Pacheco. O nome da
cidade homenageia o Coronel José Manoel Pacheco (1838-1914), que foi vereador
em Juiz de Fora nas legislaturas de 1873-76, 1898-1900 e 1905-07. Mas naquele
tempo se chamava; Agua Limpa: O município teve origem no antigo povoado de Água
Limpa, depois conhecido por Triqueda, que se tornou distrito de Juiz de Fora em
31 de julho de 1890.
Posteriormente, a sede do distrito
foi transferida, definitivamente, para o povoado de Lima Duarte, renomeado Água
Limpa. Água Limpa pertenceu, entre 1938-43, ao município de Rio Novo,
retornando a Juiz de Fora após esse período. Em 30 de dezembro de 1962, se
emancipou de Juiz de Fora, adotando a denominação de Coronel Pacheco. Ali
naquele lugar a escuridão tomou conta da noite, o silencio fúnebre era quebrado
apenas pelos estalos da fogueira.
Os escravos cansados não conseguiam
dormir por causa da fome tinham comido apenas mandioca crua e dura. Os
capatazes se revezavam em dupla para vigiar e guardar o acampamento sabia que em
breve chegariam ao seu destino. De repente se ouve o som tenebroso do shofar
que como um grito de liberdade ecoou quebrando o silencio da noite.
Os capatazes que vigiavam ficaram
atentos os que dormiam sabia que era uma emboscada do cavalheiro das trevas e
seu bando de encapuzados infernais. Com suas armas chamadas: pistola de
pederneira, as primeiras foram feitas no século dezessete. Era um mecanismo
feito para substituir o fecho de mecha, consistia em uma pedra de sílex presa
no percussor, que após ser acionado, provocava uma faísca que detonava a
pólvora. Mas estas armas a escuridão da noite e a luz da fogueira criavam um alvo
fácil para as flechas certeiras do cavalheiro das trevas e seu bando.
Quatro flechadas se ecoaram na calada
da noite acertando os alvos dos capangas que foram imobilizados pelas flechas
envenenadas com fortíssimo soníferos extraídos das plantas manipuladas pelo
pajé dos índios Puris. Naquele momento a garganta começa fechar com o choque
anafilático as vistas escurecem e as pernas ficam bambas e não mais suportam o
peso do corpo e caem no chão desfalecidos os homens maus e algozes dos índios
escravos brancos daquela comitiva. Neste momento a figura daquele cavalheiro
alto, pois dizia que a lenda tinha a aparência de três metros de altura um
gigante forte e impiedoso com os escravagistas.
Escravagistas: Homens que defendiam a
escravatura, a escravidão; Chamados também de escravocrata. Que eram partidários
do escravagismo, do sistema segundo o qual algumas pessoas devem ser privadas
de sua liberdade, por servidão, especialmente os negros e agora com os Jesuítas
e Bandeirantes os índios.
Com golpes certeiros de sua lança em
forma de tridentes o Cavaleiro das trevas mata a cada um dos quatro capatazes e
matadores de aluguel torturadores de índios e escravos. Seus corpos são
pendurados e uma marca foi colocada a fogo no corpo uma marca de caveira como
símbolo da morte; Sinal e aviso do Cavalheiro contra todos que subjugavam com
maldade os escravos. Um aviso de mudanças ou tratavam bem seus escravos ou
teriam a visita do bando das trevas.
Na mesma hora alimentos de mandioca
cozida e frutas como banana, laranjas e abacaxis assim como gomos da cana
açucarada para os escravos índios novos ainda em sua adolescência. O cavalheiro
olha para Barnabé Crescêncio e logo uma empatia se deu entre os dois. O
cavalheiro sabia que ali estava um ótimo ajudante para seu bando, o cavalheiro
olha para o carroceiro Bagaça e diz para ele contar a história para todos na
venda do seu Joaquim na Vila de Tabuleiro.
De repente em um abrir e fechar de
olhos o cavalheiro desaparece na escuridão da noite levando com ele o seu bando
e os escravos índios brancos que desapareceram e aqueles índios nunca mais
foram vistos por aquelas bandas. A pergunta era constante na Vila de Tabuleiro;
para onde eram levados aqueles que desapareceriam juntos aos barulhos dos
tropéis dos cavalos.
O mais rápido possível o Bagaça pegou
um dos cavalos ainda atrelados e em galope correu para a fazenda do seu Firmino
que parecia dono e chefe maior daquelas redondezas. Diz a historia que
enriqueceu explorando a vendas de escravos e das terras tomadas pela força e
miras dos seus capangas matadores de alugueis. E logo que contou o enredo
fúnebre de sua viagem correu para a venda do seu Joaquim o Bijoia.
Ali começa a contar a sua versão
estava ainda sem sono quando ouviu um som como se fosse um gemido de uma alma
penada foram três gemidos como se anunciando o ataque, logo os ouvidos aguçados
dos quatro capangas dos dois que estavam acordados e os outros dois que estavam
cochilando em uma ronqueira só disse Bagaça. De repente como um raio quatro
flechas certeiras atingiram os pescoços dos homens que caiaram sem direito a um
gemido, e nem tempo de atirarem com suas pistolas pederneiras.
De repente surge diante dele alumiado
pela fogueira aquele cavalheiro e seu cavalo que soltava fogo em suas
respiradas, o cavalheiro com um salto só empunhando uma arma branca: A alabarda
que era composta por uma haste pequena que tinha na ponta, afiada, uma espécie
de machado, e em quatro golpes certeiros cortam na rapidez de um corisco os
pescoços dos capangas do seu Firmino que não tiveram tempo de se defenderem.
Com uma voz rouca de trovão o cavalheiro da uma ordem e quando a ordem saia de
sua boca todos tremiam diante aquele mandamento.
A ordem era que pendurasse os mortos
nos galhos das arvores e neste momento o cavalheiro usa novamente a sua
alabarda cujo fio brilha com a luz da fogueira improvisada. Neste momento o
cavalheiro das trevas deixa a marca como um aviso para todos que maltratassem
índios e escravos um xis era colocado sinal de eliminação e destruição de todos
os covardes; sejam senhores, capangas e feitores todos estavam agora na mira do
cavalheiro das trevas e seu bando infernal.
Seu Firmino quando vê os corpos de
seus capangas solta brado de maldições e seus gritos se ouvia ao longe e jura
ali diante dos mortos que destruiria o bando e o cavalheiro. Mas como matar e
destruir uma alma penada que voltou das trevas para assombrar a todos os
fazendeiros da região. Assim cresceu naquela região as façanhas do cavalheiro
das trevas e seu bando. Com a lenda os fazendeiros começaram
a tratar bem os seus escravos e colonos.
Não havia mais os roubos das terras e
os escravos das Quilombeiras tinham a paz. Ate que um dia foi proclamado a
Abolição da Escravatura foi o acontecimento histórico mais importante do Brasil
após a Proclamação da Independência, em 1822. No dia 13 de maio de 1888, após
seis dias de votações e debates no Congresso, a Princesa Isabel assinou a Lei
Áurea, que decretava a libertação dos escravos no país.
Agora os índios selvagens deixam suas
terras próximas às cidades e começam a adentrar ainda mais pelas florestas
desaparecendo e refugiando pelas grandes matas. Com os fazendeiros agora
sossegados e com o tratamento mais humanizados o Chico Itaúna pode descansar
junto a sua amada nas terras aquilombadas de Botafogo.
Ali cria sua família a família do
Francisco o negro da tribo Zulu com sua amada e não se houve mais falar do
terrível e temido cavalheiro de três metros de altura o fantasma do cavalheiro
das trevas. Mas dizem que muitos colonos escutam os rastros das correntes e os urros
de um cavalheiro nas noites de lua cheia ouviam o tropel de seu bando
provocando calafrio e temor entre os senhores de engenho e cafeicultores. Diz o
Bagaça no botequim do Bijoia que era um aviso ou tratavam bem seus empregados
ou receberiam a visita do justiceiro vingador o cavalheiro das trevas.
Entre uma pitada e outra do velho é bom
para o Chico com seu cigarro de palha com seu fumo de rolo. Francisco homem
velho de idade com rugas da dureza do tempo, cabeça branquinha com suas cãs
pichainho, me diz com uma voz forte do cavalheiro vai deitar netinho tá tarde.
Neste momento me levanto dou um beijo
naquela mão de herói e respondo “boa noite vô Chico, sua bença”. Neste momento
viro encostado no umbral daquele casebre que era nosso lar e vejo uma lagrima
cair dos olhos do Francisco Itaúna; A pedra preta. Saudades, não apenas ainda
desejo de vingança das hostilidades e crueldades dos homens ricos e brancos!!!
Em manhã fria de inverno Chico Itaúna
fecha seus olhos pela ultima vez, no colo de sua veia a açucena de olhos azuis
da cor do céu. O velho Chico só tinha um pedido que logo foi atendido pelos
filhos dos escravos das terras Quilombeiras: Lança o meu corpo no rio, pois um
dia voltarei em forma de um grande peixe vigiando as águas e terras das
maldades.
E neste dia quando anoitecer o grande
peixe se transformara no temível Cavaleiro das Trevas e seu bando
para libertar os oprimidos daquele vilarejo. Em um beijo suave e doce despedi
do meu velho avô e logo vi o seu corpo de pedra desaparecer nas águas
caudalosas do rio, descanse em paz Velho Chico Itaúna o Pedra
Preta...
A lenda do cavaleiro ainda continua
nas noites de lua cheia com o relincho do seu cavalo e o som do shofar;
anunciando que o guardião estava à espreita e com isso ouve paz por aquelas
bandas nas terras vermelhas do sertão no tropel do bando dos
justiceiros!!!
FIM... Oswaldo de Souza bisneto
do Francisco da Francisca...