Lembro com saudade o
lampião de querosene iluminando precariamente a sala de chão batido, momento de
ligar o velho rádio chiador colocado estrategicamente na altura do ouvido de
meu pai, isto tudo para ouvir melhor os cânticos da roça no programa baú da
saudade... E eu sentado no velho banco de madeira maciça olhando para o meu
velho pai com os olhos lacrimejados e como dizíamos na época; orvalhados.
Minha mãe descendente indígena por sua natureza,
sentada me olhando com aqueles olhos negros, neste momento o caçulinha da
família começa a ouvir as historias das colheitas no cafezal, minha mãe contava
das feridas deixadas pelos nós e espinhos dos galhos em suas mãos calejadas
pela dura vida no campo.
Um fio de lagrima escorre em seu rosto marcado
pelas rugas do tempo e dos longos dias trabalhando de sol a sol, marcando no
seu rosto uma historia de lutas e sofrimentos em meu aos colonos do arraial de
Botafogo. Um arraial que segundo a historia era um quilombo onde os escravos se
refugiavam em busca de sua liberdade. Lágrimas que se perdem no chão de terra
batida de nossa pequena sala.
Minha mãe contava suas historias em misto de dor e
lembranças de tempos perdidos nos anos de sua precoce vida. A colheita de café
em meio as grandes caminhadas nas orvalhadas das madrugadas com seus pés
descalços. Passam os anos mas ainda lembro dos momentos ao seu lado daquela que
me deu a vida e que muitas vezes caminhou entre o cafezal em flor...
Neste momento toca no velho rádio com seu chiado
peculiar a musica de Cascatinha e Inhana; MEU CAFEZAL EM FLOR. As lágrimas
contida agora tornam-se em um pranto silencioso das saudades, das lutas e dos
sofrimentos de quem teve sua vida marcada pelo cafezais. Enquanto eu viver,
jamais esquecerei as feições de seu rosto e o doce som de sua voz dizendo agora
é tarde vai dormir que amanhã tem que sair cedo para a escola. Deito no meu
colchão de palha na esperança de um novo dia...
Levanto de manhã no canto do galo carijó, naquilo
que seria para mim uma grande caminhada ate a velha escola, um casarão antigo
com a pintura nas paredes descascadas. Saia sem uniforme e sem merenda, um
lápis e um caderno orelhado no velho embornal feito de saco alvejado. Descalço
com a velha calça de suspensórios, camisa branca encardida pelo uso continuo.
Na volta da escola lembro que no velho portão de
madeira a figura de minha mãe e seu avental me esperando para o almoço daquele
dia. Estas são as lembranças de minha mãe colhedora de café do CAFEZAL EM
FLOR...
Flor do Cafezal:
Cascatinha e Inhana!!!
Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal. Meu
cafezal em flor, quanta flor meu cafezal. Ai menina, meu amor, minha flor do
cafezal. Ai menina, meu amor, branca flor do cafezal. Era florada, lindo véu de
branca renda...
Se estendeu sobre a fazenda, igual a um manto nupcial.
E de mãos dadas fomos juntos pela estrada, Toda branca e perfumada, pela flor
do cafezal. Meu cafezal em flor, quanta flor do cafezal. Meu cafezal em flor,
quanta flor meu cafezal...
Ai menina, meu amor, minha flor do cafezal. Ai
menina, meu amor, branca flor do cafezal. Passa-se a noite vem o sol ardente
bruto. Morre a flor e nasce o fruto no lugar de cada flor. Passa-se o tempo em
que a vida é todo encanto. Morre o amor e nasce o pranto, fruto amargo de uma
dor. Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal. Meu cafezal em flor, quanta
flor meu cafezal...
Deus te abençoe!!! Maurílio Souza...
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