MENSAGEM DA CRUZ

MENSAGEM DA CRUZ
ESPAÇO LITERARIO SOBRE A MENSAGEM DA CRUZ :

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

POEMAS E AS HISTÓRIAS DO BABAQUARA: POR MAURÍLIO OSWALDO!!! POESIA DO MATO NO POEMA DO BABAQUARA: LIVRO ON LINE GRATUITO DE NUMERO 240!!!


Nasci no meio da roça em uma casa de palhoça, vivendo no meio do mato caçando ninho de passarinhos... Abria as porteiras, pulando no ribeirão, hoje moro na cidade, mas meu coração ficou no sertão. Colhendo café, caminhando descalço no meio da leras de batata, plantando tomates e colhendo milho nos milharais...

Tomando banho de regador lembranças guardadas com muito amor. De manhã saia com o carro de boi que rinchava no estradão despertando os colonos para o trabalho no roçado que saiam com suas enxadas e pés descalços caminhando na terra vermelha da estrada do boqueirão.

No trilhado dos pássaros da sinfonia de canários, coleiros e pintassilgo na tranquilidade das matas e florestas com seus jacus e seriemas, onças e antas, jacarés e capivaras animais de berros e urros que fazem dos efeitos sonoros das matas com seus sons horripilantes e assustador...

O verde das arvores em contrastes com as multicores de pássaros e borboletas criando uma tela de paisagens com o brilho e danças dos matizes. O Sol nasce nas campinas soberano e com autoridade se impõe sobre a escuridão trazendo claridade, a noite romântica e cheia de estrelas com sua lua formosa e graciosa inspirando os poetas com suas letras e músicas...

O caboclo da roça chamado de vários nomes e significados construíram e alimentaram este país varonil dos verdes das matas do azul do céu, do amarelo do ouro, nos brancos das nuvens com suas formas e efeitos desenhando com amplidão o firmamento...

O Sertanejo Guaco, o Roceiro e Caipira, o Caburé e Araruama, O Arigó e Bugre, o Babaquara e Baicuara, o Biriba e Botocudo, o Bruaqueiro e caburé, não importa o nome do Caiçara ele sempre será o caboclo. Sertanejo um homem diferente de gostos diversos da broa de fubá com café de manhã, do frango com quiabo uma misturada de jiló com abobrinha carregada na pimenta da canjiquinha com costelinha. Das comidas sem frescuras do angu ao mugunzá...

Das festas do roceiro, dos forros e vaquejadas, das festas juninas com suas quadrilhas e do fole dos sanfoneiros. Com suas cantorias nas batidas das latadas, da espingarda do soca-soca dos milhos da broca, das pipocas no caldeirão e do amor no coração. Despede-se com sorriso faceiro com a vara de bambu para pescar tucunaré na bocada do ribeirão, com a minhoca de isca e o cipó timbupeva para colocar o pescado.

Eita so que dia bunito e florido no roçado com os peixes no caritó voltando para minha Biboca com minha cama e colchão de palha, mas antes vou emendar bigode numa prosa fuxiqueira até fica meio troncho e dormir no meu terreiro... 

LEMBRANÇAS DO MATUTINHO FELIZ:

(CRÔNICA SAUDOSA DOS CARROS DE BOI) ...

Quem viu, viu quem não viu de forma nenhuma verão nem no inverno, outono ou primavera, o carro de boi com suas formas rústicas da roça seguindo pelo estradão. O boi atrelado nos esteios maciços de madeira hostil. O carro de boi lá vai, com seus bois de carreira, também chamado boi de cabeçalho puxando com sua força o carro pesado com suas rodas gemendo pela estrada poeirenta do roçado.

Ladeira que vem ladeira que vai o carreiro gritando gerando uma harmonia de som de gritos e gemidos do rodão de Cabreúva, a parte do centro é chamada meião e lateralmente se limita com as duas cambotas, originando as pernas arqueadas dos colonos abestados. O meião, perto das cambotas, tem sempre dois buracos, o bocão, ou oca, que é para o som criar força e ecoar.

Com seus cânticos singelos e saudosos com o carreiro empunhando o varão que com seus estalos apressa o boi velho e cansado que disputa suas forças com o novilho novo e metido em suas pernas de juventude animal. 

O boi novo vai o boi velho segura o trote arrastado e nesta disputa de idades mantem a sequência do carreirão. O chumaço que era feito de canelão mantem a harmonia das cantigas da roça sem distinção.

Sem muitas rimas do contado levo no meu coração as lembranças da minha mente do matuto cansado que não viu o tempo passar nas mudanças dos anos que apagam nas sutilezas dos matrizes. 

Os carros que cantam sem cargas apenas uma melodia ouvidas em boas lembranças pedem o óleo de copaíba que servem também para curar com seu teor medicinal cicatrizante por sua ação. O balsamo de copaíba que cessa o grito do carrão e apaga o grito de dor das feridas das cangas e mazelas.

Sou mineiro de nascença e roceiro de coração homem simples da cidade arrancado de sua sina, lembrando-se do que não viveu apenas favas contadas perto das fogueiras da fazenda do Taperão. 

Olhos lacrimejados da saudade do pai sanfoneiro por sua cultura no doce som dos acordeons quem ouviu, ouviu quem não ouviu não houve mais os acordes do meu velho progenitor e protetor.

Para terminar esta crônica cruel por sua saudade do capiau, no carro de boi existe a vara de ferrão, de carrapateiro, na frente leva ponteiro de ferro na ponta do ferrão que, antes de ponta dando origem o espeto das abelhas, com seu furo com duas argolas de ferro, que chacoalham e, assim, o boi já sabe que lá vem cutucão e desamua no efeito do amuar, ou arranca mais no carreirão. 

Carreiro bom não espeta boi nem tirar sangue do garrotão. Só ponteia, segundo nas lágrimas perdidas do poeirão despede o mineiro caladão.

DA ENXADA AO MOSQUETÃO. HOMENAGEM AO PRACINHA BRASILEIRO:

Ele era um homem que vivia no roçado, mãos calejadas da enxada sua companheira diária de sol a sol, saia pela manhã com sua marmita presa ao embornal semeando aquilo que seria o alimento das casas de seu povo, mãos marcadas pelas feridas do cafezal, homem simples e mateiro.

Conhecia todas as plantas e arvores nativas de sua região, homem bom, hospitaleiro e trabalhador que carrega em si a honestidade aprendida pelo seu velho pai, que recebia um beijo na mão e um sonoro “bença pai” que era respondido com um “Deus te abençoe”, pelo ancião matuto que um dia desbravou aquelas terras.

Mas um dia os pés descalços foram trocados pela dura botina do exército e sai o roceiro largando sua dura lida diária trocada a enxada pelo mosquetão e pelos estridentes ruídos dos canhões. Não conhecia carro e nem avião viaja para uma terra longínqua longe dos seus troca a moringa ou o coité pelo cantil, troca sua enxada pelo fuzil logo ele aquele homem sereno e calmo de fala arrastada que nunca matou um animal que não fosse para comer.

Não é chamado mais pelo nome ou apelido dos cafezais e roçados agora é chamado por o pracinha Brasileiro, ou pelo número de sua surrada e agora suada gôndola seu blusão grande e mal cortado, mas o suor não é mais da lida do campo arado, pois agora está no campo hostil de uma guerra que não era a sua cheia de violências era o lugar de sua luta pela sobrevivência.

Carregava em seu embornal um pouco da terra vermelha do lugar onde nasceu e viveu que um dia espera voltar, onde nas horas de saudades segurava aquela terra e olhava para apagada foto do seu velho pai, que todos os dias aguarda a sua volta sentado nos degraus de entrada com o rosto triste e saudoso encostado na soleira da porta.

Numa manhã de bombardeio nosso desconhecido herói é atingido e vê seu sangue misturar com a terra que não era a sua, beija a foto do velho pai segura em sua mão calejada agora suja de seu sangue que mistura a sua verdadeira terra, a terra de seu lugar o velho roçado. Neste momento longe dos seus ele dá o seu último suspiro e morre a pracinha brasileiro soldado 394 do batalhão de infantaria.

Alguns dias se passam e seu velho pai não recebe o seu filho de volta e sim uma bandeira que o pracinha Brasileiro dignificou até a morte, a mesma bandeira queimada, pisoteada e desonrada por muito políticos corruptos e sem caráter de nossa ignorante atualidade...

MEU CAFEZAL EM FLOR: CRÔNICA BIOGRAFICA!!!

Lembro com saudade o lampião de querosene iluminando precariamente a sala de chão batido, momento de ligar o velho rádio chiador colocado estrategicamente na altura do ouvido de meu pai, isto tudo para ouvir melhor os cânticos da roça no programa baú da saudade... E eu sentado no velho banco de madeira maciça olhando para o meu velho pai com os olhos lacrimejados e como dizíamos na época orvalhado.

Minha mãe descendente indígena por sua natureza, sentada me olhando com aqueles olhos negros, neste momento o caçula da família começa a ouvir as histórias das colheitas no cafezal, minha mãe contava das feridas deixadas pelos nós e espinhos dos galhos em suas mãos calejadas pela dura vida no campo.

Um fio de lagrima escorre em seu rosto marcado pelas rugas do tempo e dos longos dias trabalhando de sol a sol, marcando no seu rosto uma história de lutas e sofrimentos em meio aos colonos do arraial de Botafogo. Um arraial que segundo a história era um quilombo onde os escravos se refugiavam em busca de sua liberdade. Lágrimas que se perdem no chão de terra batida de nossa pequena sala.

Minha mãe contava suas histórias em misto de dor e lembranças de tempos perdidos nos anos de sua precoce vida. A colheita de café em meio as grandes caminhadas nas orvalhadas das madrugadas com seus pés descalços. Passam os anos, mas ainda lembro dos momentos ao seu lado daquela que me deu a vida e que muitas vezes caminhou entre o cafezal em flor...

Neste momento toca no velho rádio com seu chiado peculiar a música de Cascatinha e Inhana; MEU CAFEZAL EM FLOR. As lágrimas contidas agora tornam-se em um pranto silencioso das saudades, das lutas e dos sofrimentos de quem teve sua vida marcada pela vida nas derriçagem dos cafezais.

Enquanto eu viver, jamais esquecerei as feições de seu rosto e o doce som de sua voz dizendo agora é tarde vai dormir que amanhã tem que sair cedo para a escola. Deito no meu colchão de palha na esperança de um novo dia...

Levanto de manhã no canto do galo carijó, naquilo que seria para mim uma grande caminhada até a velha escola, um casarão antigo com a pintura nas paredes descascadas. Saia sem uniforme e sem merenda, um lápis e um caderno orelhado no velho embornal feito de saco alvejado. Descalço com a velha calça de suspensórios, camisa branca encardida pelo uso continuo.

Na volta da escola lembro que no velho portão de madeira a figura de minha mãe e seu avental me esperando para o almoço daquele dia. Estas são as lembranças de minha mãe colhedora de café do CAFEZAL EM FLOR...

PROSEADO DO SERTÃO:

No proseado do sertão meu pai me contava as prosas do carreirão. Meu pai ponhava nas manhãs de revoadas dos pássaros, o boi velho com o boi novo na carroça de atrelado. E pergunto o porquê desta pratica da roça: Meu pai respondeu na letra de uma canção: Fui buscar um boi de carro. Que estava na prisão. Pra levar pra matadouro. A pedido do patrão. Isto era ontem na vida do sertanejo e também é na vida da igreja atual, depois de velho cansado, mas com toda experiência de uma vida o homem de Deus passa a ser considerado ultrapassado. 

E começa a valorizar o novo e bunito e bom no proseado, mas que nunca viveu o que era pregado. Despreza e a igreja perde a quantidade de ensinamentos na mente dos velhos pastores sonhadores. Meu velho dizia assim o boi novo anda desnorteado e boi velho anda em linha reta.

O boi velho criou à reta no carreirão, o boi novo como aquele que manqueja criou a estrada poeirenta e sinuosa e aí aprendemos a história do bezerro manco. O bezerro manco sobe morro acima e para facilitar, pois estão acostumadas as coisas rápidas e fáceis.

Vai subindo de carreirinha e zig e também no zag ora para direita e ora para a esquerda sem um rumo certo. Formando ai o que chamamos o caminho do bezerro manco.

Pegar rota ou estrada errada perder-se, tomar uma decisão errada. Comprido que só vida de pobre. Muito longo, Conché, Manco, Concheba, Manco ou coxo. O manco cria caminho cheio de curvas e aquele caminho torna-se uma estrada, e depois uma avenida e depois o estradão que leva para o mundão torto com o caminho zigzagueado do bezerro novo.

Háaaa se ao menos ele parasse e perguntasse ao boi velho e ai em pedido de ajuda facilitava a caminhada do povo da cidade... Outra coisa não se lança fora o ferro que Deus afiou, pois afiado ele afiara o ferro sem fio para afiar, ou endireitar e assim numa vida melhorada. Quando eu joguei o laço, O animal pra mim olhou, O que ele me falou.

Foi de cortar o coração: Me disse assim portador, Destino triste é o meu, eu não sei por qual motivo. O meu patrão me vendeu, ajudei a tanta gente. Fui escravo do roçado, Depois de velho e cansado, ninguém me agradeceu... Gratidão arquivo em falta no mercado da vida.

Quantas coisas os homens de Deus fizeram por sua vida e agora descansa esquecido pela ingratidão. Quem trabalhava comigo, batia por desaforo, cortava meu corpo inteiro. Com um chicote de couro, Invés de me libertar, para morrer no cercado. Meu sangue vai ser jorrado, nas tábuas de um matadouro...

Assim como Jesus Cristo morreu em uma cruz, perdoando a humanidade sem ser por muitos grateados!!!

Meu pai, meu velho emendava o bigode em seu proseado musical do roçado: Quem trabalhava comigo, batia por desaforo, cortava meu corpo inteiro. Com um chicote de couro, Invés de me libertar, para morrer no cercado. Meu sangue vai ser jorrado, nas tábuas de um matadouro...

O HOMEM INGRATO É COMO JUDAS SEM MOEDA!!!

O CAIPIRA SONHADOR:

Um homem do campo acostumado com o arado, bom no carteado, que gosta da roça que por Deus foi presenteado, um matuto de rosto amarrado demonstrando estar meio chateado. Um homem de conversa arrastada de fala abreviada de andar com perna alongada, homem do campo que vive na sutileza no meio da mata que exibe sua beleza...

Um simples e humilde que não se define apenas estica um proseado na venda do Seu Joaquim no meio dos sacos de arroz e de feijão segue sua vida em meio ao bordão, se é pra viver do roçado tem que ter o rosto bronzeado que nem os homens do praiado. O matuto sonhador que não esconde sua dor na perda do seu amor que fugiu com o doutor...

Vive na solidão do amargo coração na palhoça de sapé, no colchão de palha de milho desfiado misturado ao capim com barba de bode e crina de animal, onde dorme o matuto abandonado cheio de esperança e fé. Casa simples de picumã de esteira de bambu e barro misturado com esterco para dar a ligação com roseira que serve de enfeite no portão onde esta a carroça amarrada com seu cavalo alazão...

De manhã no trilhar dos pássaros no barulho da bicharada sai o capiau babaquara para o dia no roçado, nas lidas da terra avermelhada que um dia guardara em seu seio o sertanejo guasca de olhos tristes e vida em desamor. Na desembocadura do boqueirão em frente à bocarra do covão na terra de Deus seu criador, despede aqui O CAIPIRA SONHADOR... Inté!!!

VIDA SERTANEJA DO CAIPIRA SONHADOR:

Eu venho do sertão do pé da serra da colheita do algodão, das mãos calejadas e pés cascorentos e empoeirados da lida da roça em seus roçados. Eu venho das colheitas dos cafezais, dos barulhentos vendavais que empurravam os galhos de café riscando meu rosto. Que ficava cheio de marcas e rugas que contam minha história com riscos e rabiscos de um rosto com feições de cansaço da vida do mateiro.

Eu venho dos banhos das cachoeiras, das braçadas dos rios com águas caudalosas. Venho das caçadas dos jacus, capivaras, antas e jacarés. Venho dos ninhos dos passarinhos dos coleiros e canarinhos que com seus trilhados fazendo as trilhas sonoras dos rincões de Minas Gerais...

Venho dos carros de bois, das retiradas de leite da mimosa vaca amansada nos laços da fazenda Tapera Alta. Venho das pescas de carás e tucunarés das profundas águas barrentas do açudão. Venho das cercas de taquaras dos bambus cortados no meio que cercam o casebre de taipas.

Venho dos galinheiros dos galos e galinhas carijós, dos galos índio valente por natureza dono do terreno. Venho dos cantares que despertam as matas dos galos galinzes que corriam assustados do galo índio manda chuva do terreirão com seu chão endurecido de nossos pés descalços dos colonos.

Venho das músicas caipira de raiz, das sanfonas e viola caipira que faz os sertanejos chorarem com seus versos e harmonia do amor não correspondido da cabocla mais faceira e formosa do lugar.

Venho das águas de coité guardadas nas cabaças de barro de argila. Venho dos fogões de lenhas com suas fumaças liberadas nas chaminés de manilhas de barro, venho do arroz com feijão, das farinhadas de mandiocas misturadas ao açúcar que eram nossa sobremesa, doce gostoso e entalhador.

Venho das coberturas de sapés presos nos cipós nos entrelaçados das esteiras que faziam o forro guardador. Venho dos piados dos jacarés que soavam nos brejos do estradão, venho dos cantos de batráquios com rãs, sapos e pererecas.

Venho das falas arrastadas dos pitos de palhas e cachimbadas na sua fumaça mal cheirosa. Venho da lamparina de querosene que marcavam os olhos e nariz escurecendo os lados dos olhos deixando-os ainda mais tristes das prosas que contam a VIDA SERTANEJA DO CAIPIRA SONHADOR... Inté!!!

 

DEUS TE ABENÇOE!!! MAURÍLIO OSWALDO...

 


 

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