PRISÃO
E CAMISA DE FORÇA:
Em
uma manhã de verão quente de mil novecentos e quarenta e quatro; José Oswaldo
apelidado de major levanta cedo, prepara os cavacos do velho fogão de lenha.
Vai ate ao poço de água. Tirando água no balde amarrado a corda presa à carretilha
e sua rodinha. Preparou o café na velha cafeteira e foi cuidar dos animais.
Quando lá pelas nove horas da manhã chega em casa quatro homens que
cumprimentam meu pai e conversam. Pede para meu pai mostrar o quintal e ver os
animais, a vara de porcos. E novamente voltam para o casebre de chão batido e
pau a pique.
Sentam
fazem algumas perguntas e de repente sem mais nem menos, usando de grande
violência colocam a camisa de força; Camisa de força ou colete de força é uma
camisa que se amarra atrás, sem mangas, com cadeado às vezes. E é usado para
pacientes do hospício e por modelos. Na era vitoriana era um instrumento de
tortura. E amarrado, aprisionado um homem simples que foi candeeiro de boi,
sertanejo da roça e levado como um criminoso para o que era chamado o trem de
doido...
Depois
de muitos pedidos quero repassar esta triste historia da colônia de Barbacena
também chamado de holocausto Brasileiro, lugar onde meu pai sobreviveu por dez
anos, de 1944; Saindo do pavilhão chamado porão ou pavilhão do inferno em 1954,
em 1955 um ano depois eu nasci sendo criado e educado pelo melhor pai do mundo
José Oswaldo de Souza “o Major”, posso ser denominado do filho da esperança,
pois depois destas torturas que não foi pelos militares e sim por um governo
civil...
O
TREM DE DOIDO:
A
estação de Bia Fortes era a última parada dos deserdados sociais. Vinha no
denominado “trem de doido”. Assemelhavam-se aos judeus levados, na Segunda
Guerra Mundial, para os campos de concentração. Ao entrarem no “trem de louco”,
os passageiros tinham a humanidade confiscada. Eram tratados como animais
selvagens que deveriam serem castigados e enjaulados nos pavilhões da morte e
do inferno.
PRIMEIRO
CONSTRANGIMENTO:
Ao
desembarcarem no manicômio eram separados por sexo e desprovidos de suas roupas,
pelados e nus recebiam jatos forte de água fria, geladas. Esse era o primeiro constrangimento.
Depois passavam por um banho coletivo e mangueira e recebiam o uniforme.
Depois, eram separados por pavilhões de acordo com as suas características e
capacidade de trabalho.
REBATIZAMENTOS:
Sem
documentos, eram rebatizados pelos funcionários. O tratamento não era
especializado e havia poucos psiquiatras trabalhando. Postos de trabalho eram
trocados por votos dados aos coronéis de Barbacena. O hospital era um grande
curral eleitoral com suas vendas de prestigio e silencio esta era a chamada lei
do silencio o que acontecia nos pavilhões morriam nos pavilhões; Inclusive
pessoas esquecidas ali pela sociedade da época. Era terminantemente proibidas
as visitas.
HISTORIA
DE GERALDA:
Uma
das mais tristes historia deste capitulo trágico e funesto de uma era de trevas
no Brasil, em um lugar onde os Hitlerianos; “discípulos de Hitler” faziam suas
vitimas. Geralda Siqueira Santiago Pereira, sessenta e dois anos. Aos quinze
anos, ela deu à luz João dentro do hospital Colônia de Barbacena. Interná-la
foi à alternativa encontrada pelo patrão que a estuprara e não queria assumir o
filho. Depois do estupro, logo a gravidez foi descoberta e familiares do patrão
começaram a articular uma saída. A mais fácil foi mandar a gestante para longe,
para um local de onde não pudesse mais sair. Foi levada ao holocausto por duas
freiras católicas amigas da família. Na entrada do seu pavilhão já deparou com
mulheres nuas pisando descalças no chão coberto de fezes. Este era o seu novo
“lar”. No primeiro dia, mesmo grávida, tomou um eletrochoque para “amansar”.
João Bosco nasceu em 21 de outubro de 1966. Dois anos depois, Geralda recebeu
alta, mas não pôde levar a criança.
ÉPOCA DA CHAMADA ERA DE VARGAS:
Nesta
época chamada Era Vargas foi o período da história do Brasil entre 1930 e 1945,
quando Getúlio Vargas governou o Brasil por 15 anos e de forma contínua.
Compreende a Segunda República e a Terceira República (Estado Novo). Essa época
foi um divisor de águas na história brasileira, por causa das inúmeras
alterações que Vargas fez no país, tanto sociais quanto econômicas.
A
Revolução de 1930 marcou o fim da República Velha (com a deposição do
presidente Washington Luís; a revogação da constituição de 1891, com o objetivo
de estabelecer de uma nova ordem constitucional; a dissolução do Congresso
Nacional; intervenção federal em governos estaduais e alteração do cenário
político, com a supressão da hegemonia até então apreciada por oligarquias
agrárias de São Paulo e Minas Gerais) e sinaliza o início da Era Vargas (tendo
em conta que, após o triunfo da revolução, uma junta militar provisória cedeu o
poder a Vargas, reconhecido como o líder do movimento revolucionário).
A
Era Vargas foi composta por três fases sucessivas: o período do Governo
Provisório (1930–1934), quando Vargas governou por decreto como Chefe do
Governo Provisório, cargo instituído pela Revolução, enquanto se aguarda a
adoção de uma nova constituição para o país, o período da constituição de 1934
(quando, na sequência da aprovação da nova constituição pela Assembleia
Constituinte de 1933-1934, Vargas foi eleita pela assembleia ao abrigo das
disposições transitórias da constituição como presidente, ao lado de um poder
legislativo democraticamente eleito) e o período do Estado Novo (1937-1945),
que começa quando Vargas impõe uma nova constituição, em um golpe de Estado
autoritário, e dilui o congresso, assumindo poderes ditatoriais com o objetivo
de perpetuar seu governo.
A
deposição de Getúlio Vargas, do seu regime do Estado Novo em 1945 e a posterior
redemocratização do país, com a adoção de uma nova constituição em 1946 marca o
fim da Era Vargas e o início do período conhecido como Quarta República
Brasileira. Posteriormente, Vargas ainda voltaria à Presidência da República,
eleito por voto direto, e governaria o Brasil por três anos e meio: de 31 de
janeiro de 1951 até 24 de agosto de 1954, quando se suicidou, com um tiro no
coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro,
então capital federal.
MEU
PAI “O MAJOR” SOBREVIVEU AO HOLOCAUSTO:
10
longos anos internado no holocausto brasileiro: Podemos dizer que quando nasci
foi como um alento na família Souza, pois meu pai recém-saído do hospital de
Barbacena onde viveu por muitos anos (10 anos) em um lugar chamado como a;
Sucursal do inferno, depósito de lixo humano, porão da loucura.
As
expressões são usadas para tentar definir o Hospício de Barbacena, conhecido
como Colônia, e dão a dimensão da barbárie cometida no maior sanatório do
Brasil, do início do século XX até os anos 80. As crueldades relatadas no livro
Holocausto Brasileiro (Geração Editorial, 39,90 reais), porém, vão além...
Lembro
quando criança eu cresci mediante ao grande silencio na família que procurava
esconder e não comentar as barbaridades vividas pelo meu pai José Oswaldo de
Souza conhecido como o major um homem tranquilo amoroso e com momentos de
mudanças de comportamento, entre a calmaria de espirito com uma sanidade cruel,
meu pai tinha um que hoje eu defino como excesso de proteção aos filhos onde
ele entrava no quarto com meus irmãos e não deixava ninguém entrar com um
extinto de proteção quase a beira de uma loucura...
Minha
irmã Zélia ainda pequena contava algumas lembranças do dia que (vou usar a
palavra capturar, pois foi tratado como um animal não como alguém que precisava
de ajuda) capturaram, aprisionaram meu pai amarrado como se fosse um animal e
levaram para o hospital conhecido com suas barbaridades e torturas entre
remédios fortíssimos e choques elétricos inclusive em sua cabeça, esbugalhando
seus olhos...
TORTURAS
E EXPERIMENTOS:
Vivendo
por longos 10 anos as torturas aos experimentos de drogas que eram testadas nos
pacientes, e você me pergunta como em um índice de mortes tão grande seu pai
saiu de lá vivo e apto para novamente viver na sociedade? Como apesar das
terríveis lembranças não reveladas no silencio de um olhar triste e meigo? Um
pai amoroso, trabalhador que me cercou de carinho, como sobreviveu no chamado
holocausto brasileiro?
Eu
te respondo um milagre que me trouxe a existência onde Deus em sua infinita
bondade me deu como presente ao melhor pai do mundo. Meu pai homem gentil e
companheiro, chegado ao carteado, musico por excelência com sua sanfona de oito
baixas. Por fui cercado de carinho, pois tudo aquilo que foi negado ao meu pai
recebi em dobro de sua atenção e carinho!!!
RELATOS
E FATOS DO HOSPITAL DA MORTE:
Relato
de alguns fatos do hospital de loucos da cidade de Barbacena; A obra da jornalista
mineira Daniela Arbex, conta assombrosas histórias de pessoas que morreram ali
- Foram cerca de 60 000 ao longo de oito décadas, segundo o governo estadual, com
base nos registros do hospital - Ou que sobreviveram em condições desumanas.
Inaugurado em 1903, o Colônia foi o primeiro hospício de Minas Gerais,
instalado no município a 169 quilômetros da capital, na Serra da Mantiqueira...
Seu
funcionamento, no entanto, se assemelhava mais ao de um campo de concentração.
Na década de 30, o hospital abrigava 25 vezes mais internos que sua capacidade
permitia. Para driblar a superlotação, a direção substituiu camas por capim,
que ocupava menos espaço. Por falta de roupas, muitas pessoas circulavam nuas.
A comida era escassa e da pior qualidade. Os filhos das internas eram
entregues, sem autorização, para adoção por outras famílias. Durante a década
de 70, os corpos dos mortos eram vendidos às faculdades de medicina do
estado...
E
para fazer o maldito dinheiro havia mortes por encomendas, onde as pessoas
indesejadas na sociedade tinham seus passaportes somente de ida, pois o próximo
destino era os sacos com seus corpos mutilados e maltratados. O preço das vidas
era referente ao que se pagavam no mercado da época um valos restrito e
impiedoso, valiam mais mortos do que vivos esta era a questão!!!
OBS:
Meu pai viveu entre as sanidades em meio às barbaridades e holocausto, tristezas
e dores no porão dos loucos por cerca de; 3650 dias longe da família, jogado e
abandonado pela sociedade sofrendo as barbáries e insanidades humanas.
A
VELHA SANFONA DE OITO BAIXAS:
Esta
vendo aquele homem? Com um olhar triste fixado no horizonte com os lombos
encurvados pelo cansaço da vida e lida, andar lento com passos arrastados de
quem já sofreu e trabalhou incessantemente pelo pão de cada dia. Uma voz de
taquara rachada, embaçada e rouca que tanto me ensinou o caminho certo a seguir,
tantas historias contadas aos longos dos anos onde eu deitava em seu colo com
um olhar feliz e deslumbrado com suas estórias de reis e príncipes...
Agora
ele pega a velha sanfona e toca divinamente naquele pequeno e surrado
instrumento a velha de oito baixas que expressavam às tristezas e amarguras do
velho Jeca, sua musica preferida chamava-se saudade do matão e o som com
harmonia e graça enchia todo o nosso quarto, meu olhar de orgulho e admiração
mirava naquele rosto cheio de rugas que escrevia em seu rosto uma vida de lutas
e sofrimento, agora o velho sanfoneiro com seus olhos rasos d’água tocava as
teclas pequenas do instrumento para contar suas magoas e saudades...
Aquele
homem valoroso de mãos calejadas pelo duro trabalho da lida pegava nas horas de
folga os velhos guardas chuvas dos vizinhos para consertar e reformar
costurando seus panos (tecidos) com aquela calma que lhe era peculiar, trocava
as varetas, reformava os cabos, trocava os gatilhos e as ponteiras (quando
estouravam). De repente não mais que de repente ajeitava o seu velho chapéu de
couro dos tempos que candeava boi pelas estradas empoeiradas da roça, meu pai
saia para o velho carteado com os amigos...
Sentado
ao entardecer ao lado do portão de madeiras a sombra da grande trepadeira com
seu sombreado, rosto ansioso nos olhos de criança voltados para a entrada da
rua chamada do meio na Fazenda Tapera Alta, de repente surgia aquele homem
cansado de mais um dia de labuta carregando seus baldes de soro cheirando a
leite, naquele momento eu corria com aquelas pernas pequenas ao encontro
daqueles braços entre sorrisos de alegria estendia minha pequenina mão e na
mesma hora recebia uma pequena moeda trocada por doces e balas; No bar do Jota.
O velho homem estava de volta para lar, distantes em dias remotos...
À
noite aquele velho homem ligava seu radio antigo que logo soava o seus sons e
chiados de violas e cânticos sertanejos embalando a harmonia da família. O
velho lampião de querosene era aceso com seu peculiar isqueiro de pedra e o lampião
soltava sua fumaça preta enchendo o cômodo de chão batido com aquele cheiro de
óleo. Agora o silencio enchia a casa, as conversas cessavam, pois começava a
radionovela que todos amavam e ao som das ondas sonoras do velho radio contava
a estória do Jeronimo o herói do sertão que contava as lutas contra o crime do
valente sertanejo e seu amigo o fiel Saci. Quando terminava o dia a luz do
velho lampião era soprada e a escuridão tomava conta novamente do velho casebre
de pau a pique que era nosso lar de amor.
Esta
vendo aquele velho homem sanfoneiro com sua velha sanfona de oito baixas na
mão? Este homem é meu pai o meu maior herói!!!
ALEM
DOS MUROS DA CIDADE DOS LOUCOS:
Com
variedades de histórias, o Estado de Minas apresenta a série “Além dos Muros”,
que retrata pacientes que saíram da internação de longo prazo e hoje vivem em
sociedade graças a iniciativas da rede substitutiva, implantadas na
continuidade da reforma psiquiátrica, na década de 1990. São pacientes que,
antes da Lei 10.216, de 2001 – chamada de Lei Paulo Delgado, que definiu a
extinção progressiva de manicômios no país, viviam confinados em hospitais,
muitas vezes em condições subumanas, como no Centro Hospitalar Psiquiátrico de
Barbacena (CHPB), o Hospital Colônia, onde morreram mais de 60 mil pessoas até
o fim dos anos 1970.
UM
INTERNO FAMOSO HELENO DE FREITAS O GILDA:
Craque,
gênio e polêmico. O mineiro Heleno de Freitas foi um dos maiores ídolos do
Botafogo e um dos melhores jogadores de todos os tempos do futebol brasileiro,
mas nem assim ficou milionário e acabou morrendo em 1959, no dia 08 de
novembro, abandonado na casa de saúde São Sebastião, em Barbacena-MG, onde
estava internado desde 1954 devido a problemas mentais. Heleno de Freitas
nasceu em 1920 em São João Nepomuceno, Minas Gerais. Começou nos juvenis do
Fluminense.
Nervoso
em campo e boêmio fora dele, Heleno se irritava com o apelido que ganhou: Gilda
(personagem da atriz americana Rita Hayworth). Por não suportar a dor da
derrota, chegou muitas vezes a discutir com os próprios companheiros, em suma,
um profissional com alma de amador. Marcou 204 gols pelo Fogão em 233 jogos.
Além do Botafogo, clube que defendeu de 1945 a 1948 e 1950, o centroavante
atuou pelo Vasco (1949), Boca Juniors, da Argentina (1951), América do Rio
(1951), Atlético Barranquilla (1951 e 52) e Santos (1953). Na carreira,
disputou 186 jogos oficiais.
SEUS ÚLTIMOS DIAS DE VIDA:
Na
sua brilhante e agitada trajetória, também marcada por diversas expulsões e
confusões em campo, Heleno conquistou apenas um título: o Carioca de 1949. Pela
seleção brasileira marcou 15 gols e ao todo, na carreira, fez 265. Heleno
passou os últimos anos de vida internado em um sanatório. Confira alguns relatos
da agonia do ex-centroavante que brilhou no futebol e morreu esquecido.
Trechos
retirados do livro "Nunca Houve um Homem como Heleno", escrito pelo
jornalista Marcos Eduardo Neves e publicado pela editora Ediouro. Nas
dependências da casa da saúde, Heleno tornara-se agressivo, xingava as pessoas
à toa. Um dos enfermeiros contaria que, num acesso de demência, chegou a botar
quatro cigarros acesos na boca e dois nas narinas. Passou a rasgar as próprias
roupas e volta e meia andava nu pela casa.
Em
seus últimos dias, Heleno esteve mudo e afástico. Tudo era melancolia,
silêncio, tristeza. Agonizava. Suas unhas tornavam-se roxas, em sinal
preventivo de que a morte se aproximava. A linguagem do olhar, a mais sincera
das linguagens, por seu estado profundo e humano, revela sua dor, sendo todos,
ao seu lado, impotentes para reanimá-lo.
Na
manhã de 8 de novembro de 1959, um domingo como tantos em que Heleno encantou
plateias, o enfermeiro foi levar-lhe o café da manhã e o encontrou morto. Após
quatro anos, dez meses e 25 dias de tratamento, os médicos constataram o óbito,
aos 39 anos, por paralisia progressiva. Ali morreu um ídolo famoso e conhecido
entre tantos desconhecidos que tiveram o mesmo destino a morte silenciosa e na
solitária...
A
VIAGEM DOS EXCLUÍDOS:
Na
estação um trem com muitos passageiros: Faziam uma viagem sem volta, meu pai a
mais de 60 anos atrás desembarcou no chamado trem de doido, para o lugar
chamado hoje pelo nome de holocausto brasileiro com mais de sessenta mil mortos
esquecidos por todos inclusive alguns que foram excluídos na memoria de seus
parentes.
FICA
O REGISTRO DE ALGUNS RELATOS:
ESCULTORA
FRANCESA CAMILLE CLAUDEL: Em 1913, a escultora francesa Camille Claudel, 49
anos, foi internada em um manicômio por sua família após uma crise na qual
quebrou suas obras. Camille foi diagnosticada com paranoia, apresentava
delírios nos quais sentia-se perseguida, achava que seu ex-amante, o escultor
Auguste Rodin, roubaria suas esculturas e tinha pensamentos suicidas.
A
escultora passou por dois manicômios nos últimos 30 anos de sua vida e somente
“libertou-se” do cárcere aos 78 anos, quando, ainda interna, morreu de fome, em
1943, como aconteceu com muitos pacientes por causa da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945). Assim como a escultora francesa Camille Claudel, 60.000 morreram
no Brasil no lugar chamado holocausto brasileiro, morreram inclusive muitos de
fome...
RELATO
DO CABO ANTONIO:
Antônio
Gomes da Silva, atualmente com sessenta e oito anos, um dos sobreviventes do
hospital. - Ele conta; Recordava-se sempre do início das sessões, quando era
segurado pelas mãos e pelos pés para que fosse amarrado ao leito. Os gritos de
medo eram calados pela borracha colocada à força entre os lábios, única maneira
de garantir que não tivesse a língua cortada durante as descargas elétricas.
O
que acontecia após o choque o Cabo não sabia. Perdia a consciência, quando o
castigo lhe era aplicado. O colega Antônio da Silva, o Toninho, lembra bem o
que acontecia depois que o aparelho era ligado. Ele via os companheiros
estrebucharem quase como se os olhos saltassem da face. Tamanha era a crueldade
destes castigos a homens trabalhadores e honesto com síndromes que seriam
facilmente diagnosticadas e tratadas, mas a indústria da morte e do
experimentos não podia parar e precisavam de matéria prima que era os humanos
pobre e infelizes!!!
MULHERES
NUAS CLAMAVAM POR SOCORRO:
Mulheres
nuas presas as janelas no hospital colônia, acena atrás de grades como se
estivessem clamando por ajuda sem serem atendidas. Vivendo suas vidas
privativas e entorpecidas pelos experimentos de dosagens medicinais que muitas
chegavam a matar ate chegar a denominador comum. As mortes aconteciam por fome,
frio, doenças e até por eletrochoques. A alimentação era precária. O aspecto da
comida era tão repugnante que o psiquiatra e psicanalista Francisco Paes
Barreto ao conhecer o hospital em 1965, quando faria uma pesquisa, perguntou ao cozinheiro:
“Ué!
Vocês criam porcos aqui?” “Não. Isso aqui é a comida dos pacientes”. Por causa
da fome os pacientes comiam ratos e bebiam água do esgoto, que ficava aberto no
pátio do hospital, e urina. As crianças internas bebiam leite até vomitarem, no
dia que este era servido. A Colônia também lucrava com a venda de cadáveres
para os cursos de Medicina. Entre 1969 e 1980 foram vendidos 1.823 corpos, sem
autorização dos familiares das vítimas...
A
SUCURSAL DO INFERNO OU PORÃO DA LOUCURA:
O
resgaste de uma historia: quem vai pagar por isto, pelo sofrimento de meu pai,
minha mãe e meus irmãos? Parte do livro de minha vida que conta a historia de
meu pai José Oswaldo de Souza, o Major que viveu por longos dez anos em um
lugar chamado a sucursal do inferno ou porão da loucura, que transformou uma
síndrome simples em um tormento sem fim.
Momentos
da historia de nossa família pacata e humilde transformando meu pai de um
pacato trabalhador que gostava de criar animais em um louco encarcerado e sendo
tratado de maneira sórdida, com experimentos de remédios que trouxe a morte a
muitos e torturas com choques elétricos a um homem que o único crime era ser
trabalhador e honesto e pai de família exemplar...
Um
ano antes de meu nascimento todo aquele sofrimento estava para acabar, uma
injeção proposta por um dos médicos caríssima onde minha mãe uma humilde mulher
que vivia e criava os filhos com as roupas que lavava que deu a luz a doze
filhos e criou uma sobrinha, minha querida irmã de criação Geni que eu amava
muito (falecida em acidente de carro aos 23 anos) aonde dos doze filhos somente
seis chegou a sobreviver...
Dona
Nivalda uma mulher coragem e espelho de minha vida, descendente indígena pobre
que era na roça colhedora de café que derriçava na mão que ficava ferida e em
carne viva com os cortes abertos, humilha-se pedindo a ajuda financeira a
familiares e amigos para pagar aquele experimento que poderia por certo trazer
o óbito ao meu querido e amoroso pai, que naquele momento o experimento graças
a deus deu certo. Recebeu alta da colônia sendo um dos poucos de seu pavilhão a
sair com vida, sobrevivendo e retornando para nossa casa com uma vida
seminormal entre lucidez e devaneios...
Atendendo
ha muitos pedidos de amigos e irmãos sobre o caso do manicômio de Barbacena,
onde parte de um livro com o titulo de “holocausto brasileiro”, parte deste livro da autora Daniela Arbex. Neste
livro-reportagem fundamental, a premiada jornalista Daniela Arbex resgata do
esquecimento um dos capítulos mais macabros da nossa história: A barbárie e a
desumanidade praticadas, durante a maior parte do século XX, no maior hospício
do Brasil, conhecido por Colônia, situado na cidade mineira de Barbacena. Vou
falar mais um pouco sobre o famigerado “trem de doido” uma figura hitleriana
contra os Judeus de todo o mundo...
TREM
DE DOIDO: Sem qualquer critério para internação, os deserdados sociais chegavam
a Barbacena de trem, vindos de vários cantos do país. Eles abarrotavam os
vagões de carga de maneira idêntica aos judeus levados, durante a Segunda
Guerra, para os campos de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia. Os
considerados loucos desembarcavam nos fundos do hospital, onde os guarda-freios
desconectava o último vagão, que ficou conhecido como “trem de doido” (nos anos
40 em um destes vagões estava meu pai José Oswaldo de Souza conhecido com
Major).
A
expressão, incorporada ao vocabulário dos mineiros, hoje define algo positivo,
mas, na época, marcava o início de uma viagem sem volta ao inferno. Wellerson
Durães de Alkmim, 59 anos, membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da
Associação Mundial de Psicanálise, jamais esqueceu o primeiro dia em que pisou
no hospital em 1975. Eu era estudante do Hospital de Neuropsiquiatria Infantil,
em Belo Horizonte, quando fui fazer uma visita à Colônia ‘Zoológica’ de
Barbacena.
Tinha
23 anos e foi um grande choque encontrar, no meio daquelas pessoas, uma menina
de 12 anos atendida no Hospital de Neuropsiquiatria Infantil. Ela estava lá
numa cela, e o que me separava dela não eram somente grades. O frio daquele
maio cortava sua pele sem agasalho. A metáfora que tenho sobre aquele dia é
daqueles ônibus escolares que foram fazer uma visita ao zoológico, só que não
era tão divertido, e nem a gente era tão criança assim. Fiquei muito impactado
e, na volta, chorei diante do que vi.
QUEM
VAI PAGAR PELA BARBÁRIE?
A
cidade de Barbacena ignorou isso por muito tempo, ate tentou apagar esta
historia triste de sofrimentos, mortes e torturas, mas o certo é que se faturou
muito dinheiro com a indústria da morte.
Hoje
se criou o museu da loucura, mas vive fechado para reforma, agora pergunto,
reforma? Ou para encobrir uma historia de assassinatos por encomendas? Pois se
alguém quisesse ficar livre de uma pessoa sem escrúpulo nenhum eram enviados no
chamado trem de doido (que hoje entre os mineiros, esta verdade triste de
sofrimentos de famílias virou motivos de piadas insensíveis de botequim). A pessoa
que era levada de lá não mais saia, pois aquela viagem era sem volta...
REFORMAR
O QUE?
Reformar
o que? Não se reforma uma historia de vida ceifada da sociedade, de quem é a
culpa? Quem vai pagar por isto? Holocausto brasileiro: 60 mil morreram em
manicômio de Minas Gerais: Hospital Colônia de Barbacena. Crédito: Geração
Editorial/divulgação. Foram pelo menos 60 mil mortes no hospício, onde apenas 30%
dos “pacientes” tinha diagnóstico de doença mental.
A
maioria dos internos fazia parte de minorias excluídas do convívio social, como
epiléticos, mendigos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, meninas grávidas
violentadas ou que perderam a virgindade antes do casamento. A instituição foi
criada em 1903 com 200 leitos, e alcançou a marca de cinco mil pacientes na
década de 1960...
NOTA:
O hospital foi construído na antiga fazenda da caveira, que pertencia ao
conhecido na historia brasileira como o delator dos inconfidentes; Joaquim
Silvério dos Reis; como vemos por isto que começou bem o campo de concentração
no Brasil. Esta historia é em memoria do meu já falecido pai José Oswaldo de
Souza o 'MAJOR' que sofreu humilhações terríveis...
Muitas
pessoas pensam que tudo isto são fantasias e imaginações, vivem em seus jardins
floridos que não imaginam e se esquecem de que nos jardins floridos da vida tem
espinhos e estrumes, sujeiras e sofrimentos, e animais peçonhentos
transvestidos de jardineiros, por: Maurílio Souza; filho do homem que tinha o
apelido de Major meu grande herói da minha vida...
Leia
a matéria completa em: Holocausto brasileiro: 50 anos sem punição (Hospital Colonia)
Barbacena-MG – Geledés Follow us: @geledes on Twitter | geledes on Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário