Lembro com saudade o lampião a querosene
ligado o velho rádio chiador na sala colocado estrategicamente na altura do ouvido
de meu pai, isto tudo para ouvir melhor os cânticos da roça no programa baú da
saudade... E eu sentado no velho banco de madeira maciça olhando para o meu
velho pai com os olhos lacrimejados e como dizíamos na época orvalhado.
Minha mãe descendente indígena por
sua natureza, sentada me olhando com aqueles olhos negros, neste momento o
caçula da família começa a ouvir as historias das colheitas no cafezal, minha
mãe contava das feridas deixadas pelos nós e espinhos dos galhos em suas maõs
calejadas pela dura vida no campo.
Um fio de lágrima escorre em
seu rosto marcado pelas rugas do tempo e dos longos dias trabalhando de sol a
sol, marcando no seu rosto uma historia de lutas e sofrimentos em meu aos
colonos do arraial de Botafogo. Um arraial que segundo a historia era um
quilombo onde os escravos se refugiavam em busca de sua liberdade. Lágrimas que
se perdem no chão de terra batida de nossa pequena sala.
Minha mãe contava suas
historias em misto de dor e lembranças de tempos perdidos nos anos de sua precoce
vida. A colheita de café em meio as grandes caminhadas nas orvalhadas das
madrugadas com seus pés descalços. Passam os anos mas ainda lembro dos momentos
ao seu lado daquela que me deu a vida e que muitas vezes caminhou entre o
cafezal em flor...
Neste momento toca no velho rádio com seu chiado peculiar a musica de Cascatinha e Inhana; MEU CAFEZAL EM
FLOR. As lágrimas contida agora tornam-se em um pranto silencioso das saudades,
das lutas e dos sofrimentos de quem teve sua vida marcada pelo cafezais. Enquanto
eu viver, jamais esquecerei as feições de seu rosto e o doce som de sua voz
dizendo agora é tarde vai dormir que amanhã tem que sair cedo para a escola...
Levanto de manhã naquilo que
seria para mim uma grande caminhada ate a velha escola. Saia sem uniforme e sem
merenda, uma lápis e um caderno orelhado no velho embornal feito de saco
alvejado. Descalço com a velha calça de suspensórios, camisa branca encardida
pelo uso continuo. Na volta da escola lembro que no velho portão de madeira a
figura de minha mãe e seu avental me esperando para o almoço daquele dia. Estas
são as lembranças minha mãe colhedora de café...
BIOGRAFIA
DA DUPLA CASCATINHA E INHANA:
Dupla
sertaneja formada por Francisco dos Santos, o Cascatinha (Araraquara SP
20/4/1919-São José do Rio Preto/SP 14/3/1996) e Ana Eufrosina da Silva Santos,
a Inhana (Araras SP 28/3/1923-São Paulo/SP 11/6/1981).
Aos 18 anos, Francisco cantava ao violão modinhas, canções e valsas românticas, e tocava bateria. Com a chegada do Circo Nova Iorque a sua cidade, formou dupla com Chopp, artista do circo, usando o pseudônimo de Cascatinha, marca de cerveja, para combinar com o do parceiro.
A dupla tornou-se conhecida em pouco tempo, transformando-se, em 1941, no Trio Esmeralda, quando Francisco se casou com Ana, chegando então a ganhar, no Rio de Janeiro/RJ, prêmios no programa César Ladeira, da Rádio Mayrink Veiga, e nos programas de Manuel Barcelos e Papel Carbono, de Renato Murce, da Rádio Nacional.
Em 1942 Chopp separou-se do casal, enquanto a dupla restante ingressava no Circo Estrela-Dalva, excursionando entre o Rio de Janeiro e São Paulo, e passando depois por vários circos e parques de diversões, como o Imperial, onde atuaram durante cinco anos. Em São Paulo, em 1947, atuou na Rádio América. Em 1950, a dupla foi contratada pela Rádio Record, onde permaneceu 12 anos, estreando em disco na Todamérica em 1951, com Fronteiriça, de Zé Fortuna, compositor preferido de Cascatinha.
Nessa
época a dupla fez tanto sucesso com as composições de Elpídio Santos Despertar
do sertão e Ave Maria do sertão (ambas de parceria com Pádua Moniz),
que Cascatinha foi nomeado diretor-artístico da gravadora.
Na Todamérica, em 1952, a dupla lançou um 78 rpm que trazia Índia (Maria Ortiz Guerrero e José Asunción Flores, versão de José Fortuna) e Meu primeiro amor (versão de José Fortuna para Lejanias, de Hermínio Giménez), batendo todos os recordes de vendagem.
Em
1955 ano em eu nasci participaram do filme de Ademar Gonzaga Carnaval em lá
maior, interpretando Meu primeiro amor. Em 1966 a dupla gravou o LP Vinte e
cinco anos (RCA-Camden), lançado em 1967, alcançando sucesso com Vinte e cinco
anos (Nonô Basílio), O menino do circo (Eli Camargo), Flor do cafezal (Carlos
Paraná) e A estrela que surgiu (Zacarias Mourão e Mário Albanesi).
Pela
Chantecler lançou, em 1970, o LP Dueto de amor, incluindo os sucessos Amor
eterno (Alfredo Borba e Edson Borges), Se tu voltasses (Cascatinha e Carijó),
Como te quero (Alberto Conde e Nilza Nunes) e Castigo (Marciano Marques de
Oliveira). Dois anos depois gravou com êxito, pela Continental, Olhos
tristonhos (Dora Moreno).
No Teatro Alfredo Mesquita, de São Paulo,
em 1978, levaram o espetáculo Índia, de grande repercussão, no qual contaram
sua trajetória artística. Durante toda a carreira, a dupla percorreu vários
Estados brasileiros, atuando em circos, emissoras de rádio e televisão, além de
gravar mais de 30 discos. Em 1995 a gravadora Revivendo lançou, em dois CDs,
uma coletânea de seus maiores sucessos.
“Deus
te abençoe” Pr Maurílio Souza...
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